São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994 |
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Brasil necessita de teste que exija mais
MATINAS SUZUKI JR.
(Escrevo esta coluna pouco antes de ver o jogo entre Argentina, uma das superfavoritas, e Nigéria, aqui no estado de Massachusetts, também conhecido como Nova Inglaterra, no nordeste dos EUA). O fato de ter vencido por bons escores os seus primeiros adversários e ter uma estatística altamente favorável (6 pontos, primeiro classificado da Copa, 5 gols de saldo) ajuda a acuar os adversários. O Brasil situa-se bem também na guerra psicológica e de pressões humanas terríveis que é uma Copa do Mundo. As duas vitórias devem ainda sossegar um pouco os atritos domésticos. O time está de moral alta e Carlos Alberto Parreira fica mais à vontade para trabalhar. Além disso, a seleção só tomou um cartão amarelo até agora. Este é outro handicap positivo para as próximas fases. Mas, para sermos realistas, outros fatores devem ser levados em consideração na avaliação das chances de cada seleção. A imprensa precisa –mais do que torcer ou comemorar– simplesmente informar. Assisti em cores e ao vivo os dois jogos da Alemanha (Bolívia e Espanha) e os da Itália (Irlanda do Norte e Noruega) até agora. Eis as minhas observações: 1) O grupo do Brasil é indiscutivelmente o mais fraco. Rússia e Camarões são semi-seleções, acomodadas de última hora, e sem nenhum padrão de jogo para apresentar ao mundo. Mesmo seleções que não são de primeira grandeza como a Bolívia e a Espanha são mais difíceis de jogar. Pela simples razão que são times mais estruturados e mais consistentes. 2) Não se pode julgar muito pela TV seleções como a Alemanha, a Irlanda do Norte e a Noruega. São seleções que acreditam piamente que 1 a 0 é goleada. E são seleções de pura engenharia tática. A Alemanha mostrou toda a sua força no começo do jogo contra a Bolívia. Aquela força tem pedigree para disputar bem uma final. É um time maduro, muito entrosado, com muita mobilidade. Não foi bem contra a Espanha. Jogou mal. Mas a Espanha é 90% o time do Barcelona, um time entrosado, um time que não dá espetáculo, não ganha, mas dificílimo de ser batido. 3) Uma coisa é um time que entra só para marcar, como foram Rússia e Camarões contra o Brasil. Marcam, mas não têm a textura contínua de jogo, quando estão de posse da bola. Outra coisa, bem diferente, é quando o time, além de saber marcar, tem um esquema de jogo consistente, organizado e bem treinado. Casos de Irlanda e Noruega, horríveis de se pegar pela frente. Têm duas ou três jogadas apenas, que repetem à exaustão. Quando acertam, marcam um gol. Aí acabou o jogo. Não existe espetáculo. O resto é marcação cerrada. A Itália, diferentemente da Alemanha, não apresentou nem cinco minutos de algo com substância. Mas, como se vê, está em um grupo que é altamente competitivo e fortemente concorrencial. O Brasil ficou bem. Mas seria útil um teste que exigisse mais do time. Texto Anterior: Meninas apostam na vitória do time Próximo Texto: Contratar jogadores na Copa é um equívoco Índice |
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