São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Contratar jogadores na Copa é um equívoco

JOHAN CRUYFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Vale a pena negociar jogadores numa Copa? No papel imaginário de diretor ou presidente de um clube, acredito que ir "pescar" numa Copa é, normalmente, um grave erro.
Explico-me. Depois de ver a primeira partida de todas as equipes, todos concordaram em destacar Hagi como um dos jogadores mais brilhantes.
Mas qual é o Hagi verdadeiro? O da partida contra a Colômbia? O que jogou no Real Madrid? Ou o que atualmente joga no Brescia?
Provavelmente este último seja o verdadeiro Hagi. O seu jogo, partida a partida, semana a semana, não deve ser o que exibiu frente à Colômbia. Senão, ele não estaria jogando no modesto Brescia.
O Mundial não é o melhor lugar para se negociar, até me atreveria a afirmar que é o pior lugar para se contratar jogadores. Em alguns casos a margem de erro é mínima, mas são casos muito específicos.
Técnicos e dirigentes devem se esquecer das Copas na hora de buscar o bom, bonito e barato. Isso só se encontra na juventude, em outros Mundiais. É nos juvenis, sub-19, sub-21, que devemos lançar as redes e controlar o mercado, como aconteceu no Mundial juvenil do Chile, onde apareceram, na mesma equipe (Iugoslávia) jogadores como Prosinecki, Savicevic, Boban, Suker, etc.
Muitos diretores e técnicos vieram aos EUA para contratar jogadores. A maioria deles acha que comprou uma pedra precisosa. Naturalmente, a preço de pedra preciosa. Acabarão percebendo no dia-a-dia que a estrela era só, na maior parte dos casos, um jogador internacional, simplesmente isso.
Para fazer uma contratação, sobretudo quanto se trata de um jogador importante, não se deve reparar apenas no que fez este jogador em sua equipe, nos gols que marcou e, muito menos, nos vídeos dos representantes onde aparece apenas o que o jogador sabe fazer bem.
Na hora de negociar não se deve pensar na estrela que se vai contratar, mas em fatores muito mais importantes: como ele se encaixará no sistema de jogo da equipe em que jogará e se ele se adaptará ao novo estilo de vida e ao novo país.
Esses fatores explicam por que Maradona, uma das grandes estrelas do futebol, praticamente não brilhava no Barcelona, e por que Hagi, o "Maradona do Leste", saiu pela porta dos fundos do Real Madrid. No futebol tudo parece fácil, mas a realidade é muito diferente.

Texto Anterior: Brasil necessita de teste que exija mais
Próximo Texto: Meio-campo do Brasil é a cara de Parreira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.