São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Meio-campo do Brasil é a cara de Parreira

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA REVISTA DA FOLHA

O meio de campo da seleção brasileira é, de todos os setores do time, o que melhor evidencia as limitações da concepção de jogo de Parreira.
Vimos todos, na sexta, a dificuldade e a irritante lentidão com que os homens de meio tentaram cumprir a tarefa de levar a bola da defesa ao ataque.
No item "lançamentos" –fundamento primordial para quem atua no setor– o meio-campo brasileiro exibiu o seguinte quadro, de acordo com os números levantados pelo Datafolha: Dunga tentou 8 e errou 5; Mauro Silva tentou 1 e errou 1; Raí tentou 5 e errou 4, Zinho tentou 1 e acertou 1.
Uma piada.
O problema é, antes de tudo, de responsabilidade do técnico. Cabe a ele colocar os homens certos nas funções certas. E cabe a ele determinar o posicionamento dos jogadores.
Nos dois casos, Parreira erra. Se consegue um bom resultado no bloqueio, na hora de partir para a ofensiva seu esquema de meio-campo naufraga de verde e amarelo. Por quê?
Primeiro porque Mauro Silva e Dunga são muito lentos e sem inspiração na condução do jogo –defeitos que anulam a vantagem da retomada de bola. Segundo, porque Raí e Zinho, que complementariam a dupla de destruidores, não estão articulados ao sistema de meio-campo, mas às laterais.
Raí, é verdade, tentou nos dois jogos livrar-se da prisão, mas suas investidas pelo meio esbarraram na ausência de Zinho (amarrado naquele seu corredorzinho) e no difícil diálogo com o futebol esforçado de Dunga. E, claro, tanto o próprio Raí quanto Zinho estão tecnicamente mal.
Viu-se contra Camarões que, bloqueadas as laterais, o Brasil não tem alternativa de jogada, salvo a bola para Romário, esse "killer" maravilhoso.
O que Parreira pode fazer para mudar, considerando que três atacantes ele não vai pôr mesmo? Para dar velocidade e imaginação na passagem para o ataque deve libertar os dois meio-campistas de frente da monocórdia articulação com as laterais, deixando-os conduzir e organizar jogadas pelo meio –variação fundamental para dar alternativas ao time.
Por si só, a modificação melhoraria o setor. Mas para ganhar a rapidez e a categoria necessárias teria que ir além. Bastaria que Parreira esquecesse esse Paulo Sérgio e olhasse para Cafu e Mazinho. Quem sai? Raí fica (é mais ofensivo e joga com Cafu). Zinho, bye bye. Dos outros dois, a rigor, tanto faz, mas Dunga está melhor.
Há quem queira a passagem para o meio do Leonardo, craque que o técnico ia deixar no banco, como deixou Romário fora nas eliminatórias. Melhoraria, sem dúvida. Mas poderia dar um branco na lateral.

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