São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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EUA não entendem o Japão

JOHN HANCHETTE
DO "USA TODAY"

Quando o estudante japonês Takuma Ito foi baleado em Los Angeles, em março, seu pai, Rumiko, recordou que não compreendera por que seu filho quis estudar nos EUA.
"Nós dissemos a ele: `O que tem esse país para você querer ir para lá?"'
Esta visão dos EUA, bastante compreensível, não funciona só num sentido. O livro "Looking at the Sun" (Pantheon Books, US$ 25) mostra que nós tampouco entendemos os japoneses.
O autor, James Fallows, observa que os americanos "tendem a ver o mundo como uma imensa extensão potencial de sua própria cultura, contendo bilhões de pessoas que seriam americanas se tivessem essa oportunidade".
Esta visão não é apenas estreita e arrogante. Ela também pode levar a alguns mal-entendidos catastróficos em escala mundial.
Víamos Ho Chi Minh como um vilão comunista, e não como um nacionalista eficiente, e nos atiramos de cabeça numa guerra do outro lado do planeta. Víamos Ferdinand Marcos como um grande estadista nas Filipinas e o apoiamos, ignorando que era corrupto.
E agora, escreve Fallows, entendemos tudo errado no que diz respeito ao Japão.
O autor postula que nós caímos no hábito de usar esses modelos mentais familiares, porém errados, para explicar por que o Japão durante tanto tempo "comeu o nosso almoço" econômico e por que enfrenta dificuldades hoje.
Fallows passou a segunda metade dos anos 80 no Japão. Quando voltou aos EUA, percorreu bibliotecas de universidades, lendo artigos sobre o Japão escritos após a Segunda Guerra Mundial.
Essencialmente, era "o mesmo artigo reescrito muitas vezes" –sempre afirmando que o Japão está se modernizando, se tornando mais americano, mais responsável, mais aberto, mais internacional e disposto a pôr fim à combinação agressiva de governo forte e grande indústria que o transformou numa potência tão insular.
No entanto, hoje a administração Clinton se encontra à beira de uma guerra comercial com o Japão, porque este se recusa se abrir para empresas americanas.
A tradição anglo-americana considera que comércio vigoroso é algo benéfico para os dois lados. A história asiática ensina que "a competição econômica é uma forma de guerra, na qual alguns ganham e outros perdem".
Fallows deixa claro que os japoneses só compram o que não conseguem produzir: combustível, alimentos, matérias-primas, aviões. O que o Japão consegue produzir, ele não compra. Mas nós não prestamos muita atenção a tudo isso.
"A maioria dos ocidentais parece sentir-se aliviada por não mais precisar ficar pensando naqueles asiáticos irritantemente bem-sucedidos", escreve Fallows.
Ele conclui que os países de língua inglesa vêem a concorrência econômica "como se ela fosse uma questão de certo ou errado, justo ou injusto". Ele mostra que é mais de uma questão de "fortes e fracos, alertas e desatentos".
Tradução de Clara Allain

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