São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994
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Cliente faz maratona em supermercados

CRISTIANE PERINI LUCCHESI E MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com dois dias de vida, o real já alterou o comportamento do consumidor. Mais cauteloso, ele está fazendo uma verdadeira maratona nos supermercados de São Paulo e só para comprar o necessário.
Ontem pela manhã não havia filas nos caixas do Paes Mendonça e do Carrefour, da marginal Pinheiros, zona sul, e do Pão de Açúcar e Sé da Praça Panamericana, zona oeste da cidade.
O movimento caiu pela metade, na estimativa de clientes habituais e funcionários das lojas.
O advogado Mathias de Faria, 64, dedicou o dia de ontem exclusivamente à pesquisa de preços em quatro supermercados.
Começou pelo Sé da Panamericana e depois iria ao Pão de Açúcar, Paes Mendonça e Carrefour.
Seus planos já estavam traçados. Ele colocaria os preços dos produtos na memória do computador de seu filho, que indicaria a marca mais barata e a loja.
"Só depois dessa triagem é que eu vou às compras. Com o real, acredito que fica muito mais fácil comparar preços e não é preciso ter afobação pois os preços devem cair", disse o advogado.
O engenheiro Carlos Bayer, 40, também aderiu à pesquisa, mesmo para compras pequenas.
Ontem, antes de entrar no Carrefour, na marginal Pinheiros, Bayer já tinha passado no Grande Giro, um supermercado perto da sua casa em Santo Amaro, zona sul.
"Vou levar só o necessário. De agora em diante não farei estoques porque os preços devem ficar estáveis", disse Bayer.
Referência
Além de papel e caneta, os consumidores foram aos supermercados munidos de tabela de conversão das moedas e calculadora.
Milton Rodrigues do Nascimento, 37, administrador de empresas, foi um dos primeiros a entrar no Carrefour, com uma sofisticada calculadora financeira na mão.
"Coloquei na memória da máquina o valor de um real equivalente em cruzeiros (CR$ 2.750) para não perder a referência de preços." Dessa forma, ele digitava só o preço em real e já tinha o valor em cruzeiros imediatamente.
Nascimento disse que o mais lhe preocupava é o arredondamento para cima dos centavos, principalmente nos preços dos produtos de menor valor."De R$ 0,04 para R$ 0,05, a alta é de 25%. Isso é muito em real, corresponde a CR$ 3.437,50", exemplificou.
A busca de referência de preços em cruzeiros chegou mesmo a cansar os poucos consumidores que foram às compras do mês.
O casal Marilda, 44, bióloga, e Sidnei Laurino, 47, engenheiro, desistiu de usar a tabela de conversão de moedas e partiu direto para uma conta mais simples: multiplicar o preço em real por três.
O argentino Juan José, 34, já está acostumado com a referência de preços em dólar e nem precisou fazer contas ontem, no Paes Mendonça, da marginal Pinheiros.
Ele já viu esse filme antes em seu país. "No primeiro momento pode se ter a impressão de que tudo é barato, mas não é."
Segundo ele, é perigoso comprar nos próximos 20 dias porque os preços estão inflacionados. Depois, devem baixar.
"Hoje as promoções desapareceram dos supermercados, mas, como na Argentina, devem voltar", disse José.

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