São Paulo, domingo, 3 de julho de 1994 |
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Frio cria 'demônio comilão' nas mulheres
LUIZ CARLOS DUARTE
Frio e escuridão combinam com sono e fome. Os estudos mais recentes indicam: o inverno produz alterações químicas no cérebro que acabam estimulando a sonolência. "Eu minhoco", diz a atriz Muriel Matalon, 33, que nos fins-de-semana mais frios estende sua "jornada" de sono até 11h. Calcula-se que, em média, as pessoas durmam uma hora ou uma hora e meia a mais durante a estação, diz o neurologista Rubens Reimão, 42, do ambulatório do sono do Hospital das Clínicas de SP. Segundo ele, suspeita-se da existência de um hormônio responsável pelo sono. Nos últimos cinco anos, começou-se a estudar a melatonina, substância produzida pela glândula pineal no cérebro. Ela tem como peculiaridade o fato de ser produzida somente na escuridão. Como nos dias de inverno há menos luminosidade e as noites são mais longas, estima-se que o aumento de melatonina provoque mais sono e cansaço. Essa e outras alterações químicas no cérebro, como por exemplo a diminuição de serotonina, estão sendo associadas a um tipo de depressão, conhecido como SAD (Sazonal Affective Disorder) ou doença afetiva sazonal, mais comum nos países escandinavos. A doença acomete mais as mulheres, diz Alfredo Halpern, 52, professor de endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP. "É como se elas tivessem um demônio dentro de si obrigando-as a comer demais." "É uma alteração psíquica bem documentada. Não tenho dúvidas de que se manifesta em grandes proporções em São Paulo." Outra alteração é o "sugar craving" (desejo exagerado de comer açúcar). "É uma compulsão. As pessoas não têm domínio sobre a situação", diz Halpern. Para evitar que a compulsão termine em quilos indesejados, ele recomenda doces sem gordura, como as compotas. A nutricionista Patrícia Bertolucci, 28, propõe frutas secas. "Têm sabor forte e suprem a necessidade do açúcar", diz. Além dos doces, o consumo de álcool e massas também cresce. "É alguma coisa relacionada com a carência afetiva. Mais da metade das minhas refeições no inverno são massas", brinca o paisagista Gilberto Elkis, 35. Mas engana-se quem pensa que somente os exageros da gula prejudicam o organismo. Dormir demais também faz mal. "O sono é leve, não recupera o cansaço e ainda por cima desregula o relógio biológico", avisa Reimão. O resultado, afirma, é que a pessoa vai passar o dia com a sensação de que não dormiu o que deveria ter dormido. O ideal é manter os mesmos horários de rotina e evitar a tentação de passar algumas "horas extras" na cama. Não é um conselho fácil de ser seguido. No spa Sete Voltas os clientes terão meia hora de tolerância para acordar e iniciar as atividades no inverno. "É mais difícil tirá-los da cama", afirma Miriam Abicair Sapia, 55, dona do spa. Texto Anterior: Estação provoca 'boom' de nascimentos Próximo Texto: ASSIM É O SONO NO INVERNO Índice |
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