São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Leia a 'negociação' com Figueiredo Júnior

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A seguir, a íntegra da última conversa entre a reportagem da Folha e Hélio Lopes de Figueiredo Júnior, ex-funcionário da RSF Promoções Ltda, que negociava o apoio de Romário à revelia do jogador. A Folha se apresentou como assessor de um político interessado na negociação.

Folha – Como é que vai? É Sergio Machado. Conversei com você semana passada. Tudo bem?
Hélio Lopes de Figueiredo Júnior – Como vai, tudo bem?
Folha – Eu fiquei de te ligar ontem, mas eu liguei e não te encontrei aí.
Figueiredo Júnior – Ah, eu cheguei muito tarde.
Folha – Me diz um negócio, Hélio. Ficou alguma coisa decidida a respeito daquele apoio do Romário à candidatura?
Figueiredo Júnior – Olha, isso não ficou decidido ainda não. Nós ainda estamos vendo isso. Eu te pediria mais algum tempo.
Folha – Mas, vem cá, eu tinha que dar uma resposta para o candidato. Ele está meio ansioso com esta história, faz questão de ter o Romário apoiando ele. Este apoio se daria de que forma, Hélio? Você podia me elucidar isso, pelo menos eu converso com ele e explico: olha, é necessário um certo tempo, por isso, isso e isso.
Figueiredo Júnior – Se daria por materiais, poderia se usar a imagem dele em panfletos, cartazes, estas coisas. Inclusive em TV.
Folha – E ele subiria em palanque?
Figueiredo Júnior – Não.
Folha – Não?
Figueiredo Júnior – Não.
Folha – Sei...
Figueiredo Júnior – Só se... Isso aí não está descartado, entendeu?
Folha – Sei.
Figueiredo Júnior – Mas aí seria uma coisa mais difícil, né.
Folha – Pelo que eu entendi, e pelo o que a gente conversou na semana passada, está fechado só para presidente. É isso?
Figueiredo Júnior – Por enquanto, sim.
Folha – Mas ele já tem candidato a presidente?
Figueiredo Júnior – Não. Isso está sendo acertado ainda.
Folha – Está sendo acertado?
Figueiredo Júnior – Está.
Folha – Me diz um negócio. E essa definição de apoio a deputado federal sairia quando?
Figueiredo Júnior – Isso aí eu esperava que fosse para a semana passada. Eu até falei contigo, né? Mas não foi possível ainda.
Folha – E você teria um preço? Pelo menos um preço preliminar que eu pudesse apresentar ao meu candidato.
Figueiredo Júnior – Para deputado?
Folha – Para deputado.
Figueiredo Júnior – 100 mil.
Folha – 100 mil dólares? Sei... Mas aí seria um apoio exclusivo?
Figueiredo Júnior – Exclusivo. Para deputado.
Folha – E para presidente o preço seria de quanto?
Figueiredo Júnior – Olha. Aí tem algumas variantes...
Veja bem. Teria o apoio exclusivo ao presidente somente. Ou então o presidente teria à disposição um pacote. Este pacote incluiria o apoio aos candidatos dele em todos os Estados. Então, em cada Estado o presidente poderia indicar o seu deputado federal, o seu deputado estadual, o seu governador e o seu senador.
Folha – E o Romário daria apoio a cada um.
Figueiredo Júnior – Exatamente. Aí seria um outro valor, entendeu?
Folha – É como é que eu faço para inserir talvez o meu candidato nesse pacotão?
Figueiredo Júnior – Aí vai depender... Vai depender do candidato a presidente. Se o candidato a presidente fechar um pacotão desses... Aí vai depender dele. Vai dar este direito a ele. Esta escolha.
Folha – Este pacotão ficaria em quanto?
Figueiredo Júnior – Olha, este pacotão fica em 16 milhões.
Folha – 16 milhões de dólares?
Figueiredo Júnior – Que é uma tabela que nós temos aplicada a todos os Estados com o desconto. Desconto aí de 20%.
Folha – Me diz um negócio. O que está impedindo uma definição logo? É a Copa, é o fim da Copa? Seria valorizar o apoio?
Figueiredo Júnior – Os candidatos a presidente estão esperando até o fim da Copa, né.
Eu imagino que seja isso. Agora, nós estamos com conversas preliminares. Eu acredito que nada se feche antes da Copa.
Folha – Não, né.
Figueiredo Júnior – Não, porque a... como se diz?... a imagem dele fica muito vinculada ao sucesso na Copa.
Folha – É, mas aí é uma faca de dois gumes, concorda?
Figueiredo Júnior – Concordo, mas é uma coisa que não depende mais de mim.
Folha – É claro.
Figueiredo Júnior – Passa a depender dele.
Folha – Além do PL, que outros partidos estão atrás disso?
Figueiredo Júnior – Olha, tem o PSDB e o PMDB.
Folha – Sei... Olha só. Eu fico com um certo receio porque o candidato está bem ansioso.
Figueiredo Júnior – Me dá mais um tempinho.
Folha – É?
Figueiredo Júnior – É. Você quer me deixar seu telefone?
Folha – Olha, eu prefiro não deixar ainda meu telefone.
Figueiredo Júnior – Tá bom. Você me liga.
Folha – Eu te ligo. Mas este tempinho seria de quanto?
Figueiredo Júnior – Me liga semana que vem.
Folha – Certo. Uma coisa importante que eu tinha que te perguntar porque ele queria saber. Quais são as garantias que você me dá que o Romário realmente está interessado nisso?
Figueiredo Júnior – Nós temos um documento provando isso. Uma autorização dele.
Folha – É?
Figueiredo Júnior – Uma autorização dele. E caso isso seja concretizado, fecha-se um contrato, direitinho.
Folha – Você então é de uma firma?
Figueiredo Júnior – Sou o representante da firma dele.
Folha – Da firma do Romário? Qual é a firma dele?
Figueiredo Júnior – RFS Promoções. Romário de Souza Faria Promoções.

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