São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alienados 'caçam' salas de cinema na hora do jogo

FERNANDA LAMEGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os alienados da Copa destestam futebol e fazem tudo para esquecer que o evento existe. Aproveitam o horário das partidas para ir ao cinema, alugar um vídeo, namorar, e até fazer as unhas.
Enquanto uma multidão suava frio em frente ao telão da avenida Paulista durante o jogo Brasil X Suécia, o estudante Carlos Alberto Ishini, 17, andava de skate e nem sabia quem estava jogando: "Odeio futebol".
Toda noite ele anda de skate na Paulista, mas não dá a mínima para futebol. "É idiota ver 22 caras atrás de uma bola. Tô fora."
Ishini não é o único.
Na entrada do cine Paulistano Nancy Jacqueline Octaviane, 22, estava inconsolável quando chegou para ver o desenho animado "O Rei Leão" e encontrou as portas fechadas.
"Eu passei no Belas Artes, no Cinearte, no Top Cine, em todos que eu vi pela frente. Fui barrada por falta de público".
Durante o jogo contra Camarões os estudantes Fábio Aparecido Ferreira, 19, e Patrícia Leite, 18, ficaram conversando num banco do shopping Paulista, longe da multidão que se espremia nas lojas que tinham televisão.
Fábio explicou que não tinha paciência de ficar 90 minutos vendo "um monte de gente correndo atrás de uma bola".
Patrícia, que também é bancária, concorda e explica como escapou do primeiro jogo contra a Rússia: "Tinha TV no banco, mas eu continuei trabalhando".
Não gostar de futebol não é o único motivo dos alienados da Copa. Há quem fique nervoso.
No primeiro tempo da partida contra a Suécia, a aposentada Egle Diniz, 70, tomava um pouco de ar na esquina da alameda Joaquim Eugênio de Lima com avenida Paulista. "Me emociono muito. Durante os jogos eu tenho que dar umas saídas, andar um pouco."
No Cine 1 do shopping Paulista passava "Na Roda da Fortuna" bem na hora do jogo contra Camarões. O cinema tem capacidade para 265 pessoas, mas apenas seis compareceram à sessão de 17h20.
Entre elas, a compositora, regente e oficial de Justiça Mônica Regina Augusto, 30, solteira.
Mônica Regina diz que passa mal nos jogos da Copa do Mundo: "Fico nervosa, tensa, tenho vontade de ir lá e bater no Parreira."
Mas Mônica encontrou uma vantagem na Copa. "Foi uma delícia ir ao cinema na hora do jogo. Só havia duas pessoas. Até o projecionista avisou que ia embora assim que ligasse o filme".

Texto Anterior: Viagem sem fim
Próximo Texto: Barbearia vira refúgio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.