São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Maluf promete não distribuir Fusquinhas

ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem usa sempre a mesma roupa em dias de jogo para dar sorte à seleção brasileira tem razões de sobra para acreditar na conquista do tetra pelo Brasil hoje à tarde. Além de enfrentar o mesmo adversário de 24 anos atrás (a Itália), muitas outras coincidências ligam o Brasil de 94 ao vitorioso no futebol de 70.
Paulo Maluf, por exemplo, era prefeito de São Paulo em 1970 e ocupa o mesmo cargo agora. Ele acredita que as coincidências são um bom sinal.
Em 70, Maluf disse ter sido o "prefeito pé quente" e pretende repetir o feito este ano. Só que desta vez sem fusquinhas –que também voltaram à moda após 24 anos– como prêmio.
Maluf nomeou uma comissão para estudar como homenagear os jogadores em caso de vitória, mas não pensa em presentes. Em 70 ele deu um Fusca para cada jogador tricampeão e foi obrigado pela Justiça a devolver o dinheiro pago pelos carros aos cofres públicos.
Quem vê televisão percebe outras coincidências. Ouve diariamente um boa-noite de Cid Moreira no "Jornal Nacional", como há 24 anos. Também pode ver Hebe Camargo, Silvio Santos e humoristas numa "praça da alegria". Hebe diz que quando assiste aos jogos da Copa hoje parece ver um videoteipe de 1970. "Naquela época, eu fazia o programa ao vivo em um teatro na rua Augusta (região central de São Paulo) e chamava os torcedores que comemoravam os gols na rua para participar do program. As mães dos jogadores também iam dar seu depoimento", disse. O diretor teatral José Celso Martinez Correa é outra das coincidências vitoriosas. Ganhou prêmio de melhor diretor em 70 e novamente em 1994 (veja quadro ao lado). Mas ele afirma que não torceu em 1970 e que , neste ano, vai torcer pelo futebol, não pelos brasileiros. "Em 1970, tinha muita gente presa, tortura, não conseguíamos torcer", disse. Agora, Zé Celso diz que torce pelo futebol por sua beleza como algo internacional, olímpico, não por patriotismo. Para Zé Celso, as coincidências, no que diz respeito à cultura, não significam que o país parou. Para o diretor, a repressão, a ditadura e depois a publicidade, calaram os artistas na década de 80, mas o teatro, a música e o cinema devem deixar de ser apenas lazer para serem novamente politizados. Moda , economia e música também aproximam as Copas de 70 e 94.
Minissaias com botas, calças boca de sino, sapatos tipo plataforma e cabelo comprido para homem recuperam a moda de 1970.
Naquele ano, também as empresas sofriam uma "liberdade vigiada" para controle da inflação. O Cruzeiro Novo se transformou em Cruzeiro e novas moedas entraram no mercado. As moedas tinham valor de compra e havia sentido em usar porta-níqueis, como agora após o Plano Real.
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tim Maia, Jorge Benjor –que assinava Jorge Ben– e Roberto Carlos, sucesso em 70, têm hoje um público que varia dos cinco aos 50 anos.
A Tropicália foi "relançada" com shows e um novo disco. Jorge Benjor chegou a reunir cem mil pessoas em São Paulo e Roberto Carlos está sendo regravado por Maria Bethânia e grupos de rock como o Barão Vermelho.
O historiador José Miguel Wisnick diz que não pensa em termos de não-mudança. "Acho ótimo o Brasil ser campeão com Caetano, Gil e Zé Celso ainda fazendo sucesso. Tudo isso representa as melhores coisas do Brasil", disse.
E, como o futebol é uma "caixinha de surpresas", vale acreditar também nas suas coincidências. Nos dois campeonatos (70 e 94), a seleção brasileira saiu desacreditada do país, sob o comando da mesma comissão técnica. O técnico Carlos Alberto Parreira era preparador físico. Mario Jorge Lobo Zagalo, supervisor técnico em 94, era técnico em 70 e Lídio Toledo continua a ser o médico dos jogadores.

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