São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Desta vez sairemos da Copa com o caneco

ALBERTO HELENA JR.

Desta vez, sairemos da Copa com o caneco
Em Los Angeles
Foi uma coisa muito estranha o que me aconteceu naquele dia. Na véspera, conversei com Enzo Bearzot, o técnico italiano, que foi sepulcral: "Simplesmente, não dá para vencer o Brasil. Não sabemos atacar, Rossi não faz um gol há um ano, e o Brasil é perfeito, na defesa, no meio-campo e no ataque. Se atacarmos, seremos fulminados, se ficarmos atrás, nos desclassificamos."
Se o próprio treinador adversário tinha essa visão do jogo que se travaria no dia seguinte, que dizer de todos nós brasileiros, maravilhados com aquele time espetacular de 82?
Pois na manhã do dia do jogo, acordei com uma certeza mortificante de que iríamos perder. Podíamos até empatar, mas iríamos perder. E essa certeza me perseguiu o tempo todo, até mesmo quando Sócrates e Falcão empataram a partida por duas vezes. Até hoje não tenho explicação para isso, passado tanto tempo, se é que há explicações para essas coisas.
Hoje, estou convicto de que sairemos com o caneco do estádio Rose Bowl, contra os mesmos italianos fatalistas. Nem de longe esta seleção se equipara àquela sob o comando de Telê. Deste time, só Romário teria lugar naquele. E a Itália, ainda que tenha chegado à final capengando, nem de longe se assemelha àquela que acabou campeã do mundo, mas que, no instante em que cruzou com o Brasil, estava aos pedaços.
Esta Itália sofreu, é verdade, pra chegar até aqui. Mas tem bons jogadores, apesar dos desfalques.
Seu meio-campo, com Dino Baggio, Albertini e Berti é tão forte na marcação quanto o nosso, enquanto Donadoni lhe confere um toque de classe de que nem Zinho, nem Raí ou Mazinho têm oferecido ao nosso. E, lá na frente, Roberto Baggio, ainda que baleado, é um craque de lampejos que podem ser letais.
Mesmo assim, estou confiante, pois nosso time está com todas as suas energias voltadas para não perder. Apesar de nunca ter cintilado nesta Copa, joga com extrema cautela e, quando tem chance, aproveita, mesmo desperdiçando algumas. Isso, sem contar que possuímos, na média, uma técnica superior à do inimigo. E esse me parece o antídoto eficaz para o veneno italiano. Além do mais, temos Romário, em estado de graça. Essa é a grande e fatal diferença.

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