São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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FBI pretende usar "espião cibernético"

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O governo dos Estados Unidos já está preparando o seu superespião para controlar os "crimes cibernéticos" que estão surgindo na nova era da comunicação virtual.
O FBI (Federal Bureau of Investigation, a polícia federal dos EUA) quer introduzir chips (microprocessadores de informacões) especiais em todos os novos telefones e computadores que saírem das fábricas americanas para controlar a origem e o conteúdo das informações.
O "Clipper chip" é considerado pelos membros da comunidade virtual norte-americana como a materialização do "Big Brother", o Grande Irmão idealizado pelo escritor George Orwell em seu livro "1984".
Trata-se de uma proposta altamente impopular do vice-presidente Al Gore para tornar computadores e telefones mais fáceis de serem vigiados.
A idéia é não apenas colocar o "Clipper chip" em telefones e computadores, mas também nos aparelhos que as indústrias pretendem conectar às TVs para torná-las um poderoso equipamento de comunicação –os set-top box.
Os computadores, telefones e set-tops equipados com o chip estariam seguros contra intrusos indesejáveis como os hackers e cyberpunks, que hoje descobrem códigos de acesso e invadem sistemas em todos os lugares.
Com o chip, o FBI e os departamentos de polícia também eliminariam a nova onda nos EUA da comunicação digital entre traficantes de drogas e em outras áreas do crime organizado.
O único problema é que o governo terá a chave do "Clipper chip". Com ela, poderá ter acesso a todos os registros e conteúdo das informações trocadas pelo telefone, pelas redes de computadores e pelos televisores equipados com instrumentos de comunicação.
As críticas em torno do "Clipper chip" transformaram-se nos EUA em uma espécie de guerra santa para os participantes da comunidade virtual. Os protestos variam de milhares de mensagens enviadas ao sistema de computadores da Casa Branca a manifestações de rua contra o superespião.
O govenro afirma que não pretende recuar e tem o apoio da maioria dos congressistas para levar o projeto para frente.
A atividade de espionagem e invasão de sistemas de computadores já dá cadeia nos Estados Unidos. Muitos desses invasores, conhecidos como hackers, estão na atividade por puro desafio, sem interesses financeiros.
Outros, mais sofisticados, entram em sistemas de grandes companhias como corretoras e indústrias, coletam informações quebrando as barreiras dos sistemas, e vendem o que conseguem para concorrentes.
Muitos argumentam que é louvável acabar com esse tipo de invasão de privacidade, mas não concordam em deixar as chaves dos sistemas nas mãos do governo.
Outras tentativas de fabricar o "Clipper chip" já foram frustradas em alguns testes, que revelaram algumas portas para a ação dos "hackers" e "cyberpunks" mais experientes.

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