São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Conferência de Bretton Woods criou FMI em 44

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Conferênciade Bretton Woods criou FMI em 44
Menos de um mês depois do Dia D, em junho de 1944, a confiança do Reino Unido e dos EUA em sua vitória na Segunda Guerra Mundial era completa.
Tanto que eles não vacilaram em dar início, no dia 1º de julho, à conferência de Bretton Woods, convocada para ordenar a vida econômica e financeira do mundo após a derrota do eixo Alemanha-Itália-Japão.
O nome formal era Conferência Financeira e Monetária das Nações Unidas. Economistas representando 44 países, inclusive a URSS, se reuniram por 21 dias no até hoje luxuoso Mount Washington Hotel, em New Hampshire, Nova Inglaterra (costa leste dos EUA).
Eles conceberam, sob a liderança do britânico John Maynard Keynes, um sistema cambial atrelado ao dólar, que por sua vez se fixaria no ouro, visando dar estabilidade à economia mundial.
Resolveram também criar duas instituições: o Banco Mundial (sob o nome formal de Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, ou Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ao Bird, que começou a operar em junho de 1946, caberia financiar projetos para o desenvolvimento dos países-membros. Ao FMI, manter estável o sistema cambial pelo financiamento de dívidas de curto prazo nos pagamentos internacionais.
Apesar do domínio intelectual de Keynes sobre a conferência, ela representou uma completa vitória política dos EUA.
Keynes se opôs à idéia de que as sedes do Bird e do FMI ficassem em Washington. Ele as queria "a uma distância segura da política do Congresso e dos cochichos nacionalistas das embaixadas".
Sugeriu que as instituições se sediassem fora dos EUA ou, pelo menos, em Nova York. Mas as duas ficaram a menos de três quadras da Casa Branca.
Se o "consenso de Bretton Woods" foi uma criação norte-americana, ele acabaria destruído pelos EUA, em 1971, quando o presidente Richard Nixon, pressionado pela inflação decorrente da Guerra do Vietnã, desvinculou o valor do dólar do padrão-ouro.
A partir dali, todas as moedas passaram a flutuar no mercado internacional e, embora os países desenvolvidos por vezes intervenham no mercado em conjunto para resolver situações de crise, a estabilidade imaginada em Bretton Woods terminou para sempre.
O Bird e o FMI mantêm muito poder e prestígio no mundo. Mas suas funções agora são diferentes das estabelecidas há 50 anos.
Depois de ter ajudado a reconstruir a Europa (como o R da sua sigla exigia), o Banco passou a se dedicar quase que com exclusividade a financiar e aconselhar os países do Terceiro Mundo.
Nos últimos anos, depois de ter sofrido muitas acusações de priorizar o progresso material às custas da qualidade ambiental, o Bird tem dedicado atenção cada vez maior ao que se chama de "desenvolvimento sustentado".
Quanto ao FMI, depois de encerrada a fase de estabilidade cambial que ele deveria supervisionar, passou a prestar assistência (criticada por muitos) a países em dificuldades financeiras, primeiro na América Latina e agora na Europa oriental, para que eles possam estabilizar suas economias.
Se as principais concepções de Bretton Woods se desvaneceram com o tempo, um projeto dos seus participantes que na época parecia inalcançável se realizou com o fim da Guerra Fria.
Atualmente, 177 países –praticamente todos, inclusive os que há 50 anos optavam pelo modo de produção socialista– estão filiados ao Bird e ao FMI. O sistema econômico mundial finalmente se tornou mundial.

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