São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Vai-e-vem é típico de Clinton

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

As atitudes do presidente Bill Clinton em relação ao Haiti são típicas de seu comportamento errático em política externa.
Em 24 de maio de 1992, quando o então presidente George Bush impôs a política de repatriar de maneira sumária todos os refugiados haitianos que tentassem chegar aos Estados Unidos por barco, o candidato Clinton protestou.
Disse que a decisão de Bush era "imoral e ilegal". Repetiu esses ataques durante toda a campanha.
Semanas antes de tomar posse, em janeiro de 1993, Clinton colaborou com o governo Bush para ampliar aquela disposição.
Um verdadeiro muro flutuante foi montado para impedir que levas de imigrantes ilegais chegassem do Haiti animados pelas promessas de campanha de Clinton, que recebeu elogios dos conservadores por sua decisão.
Criticado pelos liberais e pelos líderes negros que o ajudaram a se eleger, o agora presidente disse que sua resolução era provisória.
A decisão definitiva veio 17 meses depois. Em maio último, pressionado por seus aliados, Clinton resolveu, em vez de repatriar sumariamente os refugiados, conceder-lhes o direito de apresentar seus casos a agentes da imigração que decidiriam quais os haitianos que poderiam vir para os EUA.
Este mês, o presidente voltou a mudar de idéia: proibiu de novo a entrada de haitianos mas disse que eles seriam aceitos por países amigos na região do Caribe, a começar pelo Panamá.
Mas o governo panamenho, que só existe graças à invasão dos EUA que depôs Manuel Noriega em 1991, disse não a Clinton.
A hipótese de uma intervenção militar é aventada principalmente para deter a onda de refugiados. A polícia do Haiti sabe disso e tem usado de todos os meios para tentar coibir a partida de novos refugiados do país na tentativa de afastar ou pelo menos adiar uma intervenção americana.
Desde junho de 1993, Clinton tem apoiado as sanções econômicas que as Nações Unidas têm votado contra o Haiti.
Mas a ineficiência do boicote é evidente. Não há um bloqueio naval para o impor e, mesmo se houvesse, os EUA não têm sido capazes de forçar o governo da República Dominicana a cooperar com o boicote: combustíveis e bens continuam entrando no Haiti pela sua única fronteira por terra.
(CELS)

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