São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Medicina da Ásia causa um conflito de culturas

USA Today
De Arlington

LINDA KANAMINE

As lojas asiáticas nos Estados Unidos estão repletas de remédios que afirmam curar todo tipo de males: febre, dor nas juntas, náuseas, até mesmo impotência.
Mas, segundo um relatório recém-lançado, seus ingredientes podem provocar um conflito entre a cultura asiático-americana e as leis norte-americanas e internacionais de proteção a espécies em perigo de extinção.
Segundo o WWF (World Wildlife Fund, ou Fundo Mundial de Fauna e Flora Silvestres), muitos desses remédios são feitos de ossos, chifres e partes de animais e plantas em perigo de extinção.
"Não dá para deixar esse processo continuar", diz Andrea Gaski, da WWF. "Já não restam muitos tigres, rinocerontes e outras espécies, então devemos pôr fim a esse comércio."
O relatório especifica que a indústria "crescente e descontrolada" desses remédios, que movimenta US$ 10 bilhões, está acelerando a extinção de espécies como tigres, rinocerontes, ursos, almiscareiros e ginseng silvestre.
"A maioria não sabe que essas substâncias são ilegais. Isto mostra que os EUA precisam adotar medidas flexíveis", diz Daphne Kwok, diretora da Organização de Americanos de Origem Chinesa.
Ninguém sabe que proporção dos asiático-americanos utiliza esses remédios. Mas a crescente popularidade desses remédios entre os não-asiáticos ajuda o mercado a crescer, atingindo mais de US$ 200 milhões em vendas no país.
Alguns dos produtos utilizados há milhares de anos na Ásia são considerados ilegais porque violam leis americanas que proíbem os medicamentos não-aprovados.
"Temos a obrigação de restringir esses mercados", diz o secretário do Interior, Bruce Babbitt. Por isso, diz, ele pediu que o Serviço de Pesca e Fauna e Flora Silvestre entre em ação.
"Quero ação nas ruas, onde estão os boticários, explicando às pessoas que esses remédios deixaram de ser legais."
Os líderes das comunidades asiáticas também desaconselham a repressão.
"É claro que é deplorável colocar essas espécies em risco e que precisamos fazer alguma coisa", diz Peggy Saika, diretora da Rede Ambiental do Pacífico Asiático, em San Francisco.
"Mas é preciso realizar uma grande campanha educativa junto às pessoas que seguem essas práticas culturais há séculos".
Michael Lin, cientista biomédico e vice-presidente da Organização de Americanos de Origem Chinesa, diz: "Para as gerações mais velhas, de origem socioeconômica inferior, mais acostumadas aos remédios tradicionais, é muito importante que (os remédios) continuem existindo".
Os remédios são usados por populações asiáticas no mundo todo, mas suas raízes estão na China, onde a maioria ainda é produzida.
O relatório, que pesquisou comunidades em Los Angeles, Honolulu, San Francisco e Nova York, revelou que pelo menos 100 fabricantes produzem 600 remédios diferentes, dos quais mais de 430 contêm ingredientes tirados de espécies em perigo de extinção.
Além disso, cerca de 80 animais e plantas em perigo de extinção ou protegidos compõem os remédios asiáticos vendidos nos EUA.
"Muitos desses remédios funcionam", diz Andrea Gaski, do WWF. "Será que um bilhão de chineses estariam enganados?"

Tradução de Clara Allain

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