São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994![]() |
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Solte a língua, mas dispense as gafes lá fora
MURILO GABRIELLI
Confusões linguísticas podem, além de boas risadas, causar situações embaraçosas durante viagens. O turista deve estar atento a falsos cognatos e a palavras em português que, em outras línguas, são interpretadas como ofensas. Há as clássicas confusões geradas pelas diferenças entre expressões brasileiras e portuguesas. Lá "bicha" significa fila e "pica" uma simples injeção. Em outras línguas podem ser mais constrangedoras as gafes. Um inocente brinde acompanhado da onomatopéica "tim-tim" em alguns locais do Caribe será entendido como um convite para uma noite de amor. No Japão o imbróglio seria ainda maior. A expressão brasileira é, na língua nipônica, um dos nomes do órgão sexual masculino. Foi também a profusão de sinônimos para os genitais em várias línguas que causou espanto em um sóbrio empresário italiano durante sua primeira visita ao Brasil. Leu grafada à entrada de uma loja de conveniências a frase: "Fica aberta 24 horas". A palavra "fica", na sua terra, nomeia o órgão sexual feminino. O turista brasileiro não deve se espantar ao ler "buseta" (o "s" pronuncia-se como "ss") por todas as partes da Colômbia. É o nome local do microônibus (corruptela, e diminutivo, do inglês "bus"). Em Cuba, pedir uma pinga pode levar o "barman" a abrir a braguilha e expor suas partes pudendas. Também à mesa deve-se prestar muita atenção. Um casal em lua-de-mel pela Europa, cansado de só comer presunto –e frios em geral– resolveu mudar de dieta ao desembarcar na Alemanha. Apostando nas semelhanças entre a língua teutônica e o inglês, elegeu entre o elenco de nomes impronunciávies do cardápio um prato de "schinken", que, acreditavam eles, correspondesse à inlesa "chicken" (galinha). Infelizmente, a palavra alemã, em português, é traduzida como presunto. Se um amigo italiano soltar um "burro" durante um jantar em sua casa, não entenda como uma referência desairosa à sua inteligência: ele estará meramente pedindo um pouco de manteiga. O mesmo vale para um americano que classificar suas iguarias como "exquisite". Ele não estará falando mal da comida, mas sim elogiando-a como sendo refinada. Até o armário pode guardar situações engraçadas. Se um italiano disser que gosta de usar roupa "morbida", não quer dizer que seu tom preferido é o preto funéreo, mas apenas que dá preferência a peças macias. Caso ele diga que seu traje é "liscio" (pronuncia-se "lixo") entenda que o referido é liso. Se um argentino convidá-lo para uma festa recomendando que você vista um "saco", meta-se sem sustos em um elegante costume. Traduzir ao pé da letra também não é uma atitude prudente. "Rubber" (borracha, em inglês) não é utilizada para designar o artefato com o qual se apaga um texto, mas como gíria para preservativo. Texto Anterior: Sete curiosidades sobre o vinho Próximo Texto: Julho traz à tona praias fluviais do Tapajós Índice |
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