São Paulo, sábado, 30 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empregos, procuram-se

A Argentina registrou um crescimento econômico acumulado de aproximadamente 25% nos últimos três anos. Entretanto, os dados relativos ao mês de junho divulgados esta semana revelam que o desemprego continua a subir e atingiu o recorde histórico de 10,8% da população economicamente ativa. Mais ainda, outros 10,2% foram catalogados como subempregados.
É um contraste impressionante, mas não surpreendente, à medida que reflete fatores que vêm atuando há tempos não só sobre a economia argentina como também sobre a brasileira e a mundial.
De fato, embora talvez de forma menos gritante, praticamente todas as economias enfrentam hoje problema semelhante ao argentino, constatando que seus índices de desemprego não apenas não vêm baixando de forma proporcional ao aumento da produção como às vezes aumentam apesar dela. Avanços tecnológicos e, particularmente nos últimos anos, grandes mudanças na área administrativa e empresarial têm resultado em ganhos de produtividade que permitem aumentar a produção não apenas sem recurso a novas contratações, mas também eliminando postos de trabalho.
Mais ainda, o processo de adaptação a essa nova realidade, de que resultou grandes ondas de demissões, gera vítimas que dificilmente encontrarão oportunidades para reincorporação ao mercado de trabalho. Quando se soma isso às levas de jovens que todos os anos buscam ingressar nesse mercado, o registro de taxas mais elevadas de desemprego parece ter-se tornado estrutural nessas economias.
No caso específico da Argentina, agrava o problema do desemprego o fato de o câmbio estar congelado há mais de três anos, o que é um enorme fator de estímulo às importações, com inevitáveis reflexos no mercado interno de trabalho.
O outro fator a agravar tal situação, comum à quase todas as economias, é sem dúvida a excessiva rigidez da legislação trabalhista. O desejável Estado de Bem-Estar Social, que especialmente a Europa sustentou durante muitos anos, está se tornando impossível de financiar, o que cria um dilema: ou se encontram mecanismos para conter os excessos ou estes acabarão por inviabilizar de vez o modelo.

Texto Anterior: A casa e o comício
Próximo Texto: Todos de novo com todos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.