São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Discussão estéril

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Representantes do movimento Viva Rio, liderados pelos presidentes da Associação Comercial e Federação do Comércio, estiveram ontem com o prefeito César Maia e com o governador Nilo Batista.
No dia anterior, foram a Brasília para entregar a Itamar Franco um manifesto pedindo providências contra a violência na cidade. Repetiram a dose com prefeito e governador.
De Itamar Franco, obtiveram apoio: o presidente disse que mobilizará as autoridades federais sediadas no Rio, mais Ministério da Justiça, para ajudar no combate ao crime organizado e ao tráfico.
Prefeito e governador também manifestaram empenho, como não poderia deixar de ser.
A estranhar apenas o fato de a assessoria de Nilo Batista ter distribuído nota dizendo o seguinte: o governador mandou ofício ao presidente "pedindo a designação imediata de uma Comissão Federal" para realizar uma auditagem nas estatísticas criminais do Estado.
Justificativa: examinar "se não houve aproveitamento escandalosamente desproporcional de fatos que integram o cotidiano da violência urbana no Rio".
A nota se apega ao fato de o documento do movimento Viva Rio ter aludido a uma "escalada da violência". Quer que tal comissão comprove que isso não é verdade.
Nem precisa ser. A violência constatada no Rio hoje é mais que suficiente, dispensa qualquer escalada. E uma comissão para aferir estatística a respeito seria a décima prioridade numa cidade em que comunidades inteiras –como as que habitam os morros dominados pelo tráfico– vivem à mercê da criminalidade.
A realidade está muito além do que se se possa considerar "cotidiano da violência urbana".
O governador Nilo Batista é sabidamente homem comprometido com a Justiça e o respeito aos direitos civis. Por isso mesmo se espera de seu governo propostas mais concretas e eficientes do que prosaicas discussões sobre estatísticas.

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