São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Cerco ao real

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

No rádio e televisão, no Jornal Bandeirantes, por exemplo, FHC saiu dizendo ontem que a crise da isonomia salarial é "detalhe". Que não tem a proporção que está sendo dada. Que ele, FHC, não viu nenhuma crítica do presidente ao ministro da Fazenda.
O tucano tenta evitar desgaste para o real. Um desgaste que mal começou e já está levando todos os candidatos a afiarem os dentes. Além de Leonel Brizola e de Lula, que foram ao ataque no horário de domingo, agora surgiu Esperidião Amin, ontem na Gazeta.
Amin e Brizola concentram-se, por enquanto, nos efeitos do real sobre a saúde. Lula, nos efeitos sobre empregos e salários.
Muito longo
Nem os candidatos aguentam mais. Ontem, no Programa Livre, FHC saiu-se com esta, quanto ao horário eleitoral:
– Houve um exagero no Brasil de ter um programa muito longo. Vi uma vez e não consegui seguir aquela repetição de propaganda. Podíamos ter um sistema menos avassalador. Não precisa tanto. A campanha é muito longa –dois meses de televisão é muita coisa. É uma overdose, para quem vê e para quem faz. Os programas são cansativos. Eu estou rouco.
A culpa, é claro, não é dele, nem de seus colegas de PSDB, Mário Covas e José Serra. Seria do Congresso inteiro:
– Existe uma visão errada no Congresso a respeito do efeito desta maquininha, a televisão. Uma visão de que todo mundo vai ter voto. É um perigo. A televisão é uma máquina que pega você lá dentro. Você às vezes aparece e perde o voto. É preciso ter o que dizer, na televisão. E não é dizer só com as palavras. As pessoas sentem o que você diz.
Como se vê, FHC e os tucanos aprenderam muito sobre televisão e política, desde 89.
Cidade Maravilhosa
Só o Aqui Agora para fazer a cobertura do quebra-quebra no Rio sem cair no sempre fácil discurso da ordem. Só o Aqui Agora para afirmar que os ambulantes lutam "por um lugar ao sol".
Foi sensacionalista, claro. Na legenda das cenas, por exemplo: "Guerra nas ruas! Cidade Maravilhosa à beira do caos!" Mas foi o único programa a fazer elogios, mesmo indiretos, ao Rio.
Na Globo, ficaram na crítica de sempre ao governo brizolista –ainda que ele não esteja ligado à decisão, que foi do prefeito, de deslocar os ambulantes.
Por exemplo, "não há um só policial por aqui", martelava o Jornal Nacional, ontem, jogando a culpa no governo estadual. Isso, depois de qualificar o conflito de "arrastão da baderna".

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