São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Proibição de véu gera crise no governo egípcio

ADEL DARWISH
DO "THE INDEPENDENT"

Dois departamentos do governo egípcio defendem posições contrárias sobre a proibição do uso do hijab –o véu islâmico– nas escolas femininas.
O Ministério da Educação, dominado por liberais, proibiu as estudantes de usarem véu na escola.
Entrou em atrito com a Al Azhar (instituição islâmica oficial), que conta com o apoio do Ministério de Dotações Religiosas e que condenou a decisão do ministro da Educação, Hussein Kamel Bahaa al Dine.
A ordem de Bahaa al Dine, obrigando as escolas secundárias femininas a impor um uniforme único, visava resolver as divergências sobre o uso do véu.
A decisão do ministro da Educação havia sido movida pelas descobertas de um comitê que investigou queixas de pais, de que alguns professores ultra-ortodoxos ensinavam pontos de vista extremistas a suas filhas e intimidando-as para que usassem o véu.
O Comitê recomendou o afastamento de mais de mil professores e a suspensão de 200, por "impor suas posições políticas às alunas e interferir com o currículo escolar".
O liberal dr. Bahaa al Dine não previu o contra-ataque imediato movido pelos fundamentalistas.
Eles mobilizaram a Al Azhar para que emitisse uma "fatwa" (condenação) contra sua decisão, qualificando-a como tentativa de "proibir as jovens mulheres de cobrirem seus cabelos, conforme exige o islamismo".
A rápida reação da Al Azhar é fato inusitado no Egito. "O fato de transformar o uso do véu em controvérsia representa um retrocesso de mais ou menos 80 anos", disse o historiador egípcio liberal Ahmad Osman.
Ele observou que no passado apenas os muçulmanos radicais obrigavam as mulheres a cobrirem seus cabelos através de intimidação ou insultos gritados, e que nunca antes a Al Azhar tinha emitido uma "fatwa" contradizendo uma ordem do governo.
O recuo de Bahaa al Dine foi criticado pelo partido liberal Wafd e pelos grupos de esquerda.
O incidente fortaleceu a credibilidade dos políticos seculares e de feministas, que há mais de um ano afirmam que os extremistas islâmicos estão aumentando sua influência sobre a vida política egípcia.
Tradução de Clara Allain

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