São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994 |
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Paternidade irresponsável
JOSIAS DE SOUZA
O rebento é problemático. Tramado para funcionar como âncora eleitoral, veio de parto prematuro. Nasceu antes que fossem gestadas importantes reformas –a da previdência e a do sistema tributário, por exemplo. Agora vive dando problemas. Inspira cuidados. A partir desta semana, a saúde do real estará submetida a novos riscos. Ao enviar para o Congresso a medida provisória que aumenta os salários de servidores públicos, o governo se arrisca a provocar um perigoso efeito dominó. O aumento beneficiará fardados e civis. Mas apenas do Executivo. Aí está o problema. Teme-se que seja reivindicado também pelo pessoal do Legislativo e do Judiciário. O repasse em cascata do aumento para os servidores dos demais Poderes pode debilitar de vez o real. E com ele a candidatura de Fernando Henrique, enganchada no sucesso do filho único. Os riscos não são desprezíveis. O governo tenta cercar-se de precauções. Henrique Hargreaves, chefe do Gabinete Civil, conversa desde a semana passada com os líderes partidários no Congresso. Hargreaves tenta convencê-los de que o governo não está aumentando os salários de seu pessoal. "Estamos apenas corrigindo defasagens, em busca da isonomia com o Legislativo e o Judiciário", diz. As palavras de Hargreaves serão reproduzidas no texto da medida provisória, a ser divulgada nas próximas horas. O governo evitará caracterizar a correção de seus holerites como um reajuste de salário. Há um outro problema. O valor médio do aumento dos militares será de cerca de 35%, pagos parceladamente. Brindados com média bem mais baixa (7%), os civis poderão buscar na Justiça a igualdade de tratamento. Queira ou não, Fernando Henrique terá de continuar visitando Itamar. É o preço que paga por ter abandonado o filho recém-nascido para cair na estrada eleitoral. Texto Anterior: Real e impeachment marcam campanha Próximo Texto: PT dirá que FHC é opção dos 'ricos' Índice |
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