São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
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O PSDB e a sina do poder

LUÍS NASSIF

Tempos atrás feri algumas suscetibilidades ao sustentar que, dentro das atuais regras do jogo político, todos os partidos são farinha do mesmo saco. Na verdade, o raciocínio ficou pela metade: diferencia-os o fato de alguns já terem se tornado poder e outros ainda estarem lutando por sê-lo. Melhor dizer então que todos serão farinha do mesmo saco.
É uma lógica terrível, que acompanha a história política brasileira desde o Império. Enquanto alguns partidos conquistam o poder, outros buscam seu espaço na crítica ao modelo estabelecido.
O exercício continuado do poder envelhece os vitoriosos e gradativamente os oposicionistas vão conquistando espaço, denunciando o antigo modelo.
À medida em que se transformam em alternativa real de poder, começa a haver a debandada da fauna política para os novos vitoriosos.
Há uma substituição de partidos, que não altera a lógica férrea da política. No poder, o comando dos novos partidos passa a aceitar sofregamente a adesão dos profissionais do velho modelo e a valer-se dos mesmos métodos que condenava.
Desiludida, o melhor da militância, que escolhera o partido justamente por ser uma alternativa à política convencional, bandeia-se para novas agremiações que se forman, deixando-se o espaço aberto para os profissionais. Estes pulam de barco em barco, mantendo-se permanentemente à tona enquanto as embarcações políticas vão à pique e são substituídas por novas embarcações, num processo continuado de esbulho.
Sina hsitórica
A grande indagação é se o PSDB conseguirá livrar-se dessa lógica férrea.
O partido surgiu da costela do PMDB, que cumpriu à risca esse destino, e hoje está à beira da morte. Na sua curta existência, conseguiu aglutinar alguns dos melhores quadros políticos não comprometidos com o fisiologismo, autênticas vocações comunitárias que pensaram ter encontrado no PSDB um porto seguro para praticar uma política voltada para o cidadão.
São justamente esses militantes que refletem com mais transparência o estupor ante o processo que acomete o partido.
Toda aquela fauna de profissionais da política, especializados nos porões do poder começa a se aproximar do partido e em muitos locais, assume rapidamente o espaço ocupado por militantes comprometidos com a cidadania.
Colhem-se exemplos às pencas. Em Mogi Guaçu (SP), a coordenação do PSDB ficou nas mãos de político que servia a Roberto Cardoso Alves e Luiz Carlos Santos, e que foi denunciado por receber salário da Assembléia Legislativa sem sequer aparecer por lá. Em São José dos Campos (SP), ex-deputado que foi montorista, depois quercista de carteirinha, e que também é funcionário fantasma da AL, tornou-se o interlocutor da executiva estadual.
É cedo ainda para saber se o PSDB vai sucumbir a esta sina que liquida países e, em pouco tempo, extermina partidos. O governo Montoro foi um exemplo de que é possível fazer política a sério, sem fisiologismos. Mas as práticas que tentou implantar não duraram um mandato.
A questão é que se, desde o início, o partido não se comprometer ferreamente com a mudança do modelo político, não resistirá a mais de um mandato de poder.

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