São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
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Sem medo de ser feliz

Passados 45 dias do Plano Real, o clima certamente não é de euforia, mas garante pelo menos um otimismo generalizado. Sondagem feita pela Fiesp constatou que a maioria das empresas (54%) se diz otimista em relação às perspectivas do real.
De fato, esse plano, muitos acreditam, repousa sobre condições melhores que as de seus predecessores. É possível também que ele tenha sido mais feliz no que se refere a resultados imediatos. Já se registra na indústria e no comércio uma recuperação importante e poucos acreditam na hipótese de uma recessão, apesar da cautela redobrada com que o Banco Central vem administrando os juros.
É importante, aliás, perceber que o que alguns já ousam comparar ao reaquecimento posterior ao Plano Cruzado tem na verdade natureza completamente distinta da do seu antecessor –a começar pelo fato de que a volta às compras não resulta de congelamento. Na realidade, desde 1993 a economia vem passando por um processo de retomada do crescimento, depois do baque do Plano Collor. Assim, o Plano Real, que em si não parece recessivo nem expansivo, provocou apenas uma paralisação temporária para adaptação à nova moeda.
Passada a transição, a economia prossegue na mesma trajetória de lenta elevação dos níveis de produção e ocupação da capacidade produtiva. Sem que ocorra, cumpre sublinhar, uma retomada proporcional nos níveis de emprego.
Aliás, a mesma sondagem da Fiesp, apesar de constatar otimismo, revela que uma maioria ainda mais expressiva (69% dos entrevistados) prevê apenas a manutenção dos níveis de emprego, enquanto 14% esperam uma redução –efeito, sem dúvida, do esforço de busca da eficiência que vem marcando a economia do país e do mundo.
De outro lado, a expansão se explica também em boa medida pelo período, o terceiro trimestre, de tradicional crescimento da indústria e preparativos para a temporada de vendas de fim de ano.
Assim, diante das evidências de aumento do consumo e das compras a crédito, deve-se ressalvar a existência de estímulos que não estão diretamente ligados ao plano. O aquecimento que vem de antes e a retomada, com base nas expectativas do que poderá vir depois, misturam-se à euforia contida de quem tem motivos para estar feliz.

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