São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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Indefinição do governo confunde sertanejos

XICO SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL

O ministro da Integração Regional, Aluízio Alves, inicia hoje, na cidade de Mossoró (RN), a chamada etapa "retórica" do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.
A realização da megaobra foi cancelada pelo governo, mas o presidente Itamar Franco liberou o ministro para ficar à vontade no discurso político e aproveitamento eleitoral do projeto.
Em Mossoró, no seu Estado, Alves pretende inaugurar hoje um escritório que seria utilizado para planejar a obra.
Essa expectativa criada pela promessa de realização imediata do projeto está confundido a vida dos sertanejos que moram nos municípios que seriam beneficiados.
Negócios parados
Na cidade de Cabrobó (PE), no vale do rio, de onde jorraria as águas para irrigar o sertão, as transações de compra e venda de terras estão praticamente paralisadas.
O cartório de imóveis do município costumava, até o início do ano, registrar pelo menos três transações diárias.
Desde que passou a ser mais divulgada a possível realização da obra, há três meses, o movimento é quase zero.
"Ninguém tem a menor idéia de onde irá sair e por onde vai passar o canal da transposição", diz o secretário de governo da Prefeitura, Valdemir Nogueira. "Uns dizem que vai ter obra, outros divulgam que será adiada e as pessoas enlouquecem com isso."
A indefinição atrapalha também o planejamento dos agricultores, na hora de definir locais para novas plantações.
Uns acham que podem ter as suas terras desapropriadas para a construção. Nesse caso temem o risco de investir em locais que podem ser repassados ao governo por um preço baixo.
Outros apostam na valorização dos terrenos. Um hectare próximo ao rio São Francisco custa, em média, R$ 300. A expectativa é que algumas áreas dobrem de preço.
Os assessores da Prefeitura de Cabrobó, que preparavam uma festa para o lançamento do projeto hoje, estranharam o fato de Aluízio Alves ter transferido o evento, mesmo que apenas retórico, para Mossoró, sua base eleitoral.
O obra de transposição não tem sequer projeto básico nem recursos contemplados no Orçamento do próximo ano.
Segundo Aluízio Alves, seria um canal para conduzir água do São Francisco para rios secos dos Estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
A água seria utilizada em projetos de irrigação nos quatro Estados.

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