São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994 |
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A vida mata o PT
JOSIAS DE SOUZA
Faça-se o mesmo com Tasso Jereissati e Fernando Henrique Cardoso. Um, no Ceará, dirá o mesmo que o outro, em São Paulo. Opinarão pela necessidade de enxugar o Estado-empresário. Experimente-se agora fazer a mesma pergunta para outras duas pessoas: Markus Sokol, o trotskista que cuida do setor de comunicação do PT, e José Genoino, o deputado federal petista que se caracteriza pela revisão dos conceitos marxistas. Sokol dirá que é contra o programa de privatização de estatais. E Genoino não lhe endossará as palavras. O que está matando o PT nesta eleição é a diferença entre a turma de Sokol, que deseja um partido voltado para o próprio umbigo, e a tribo de Genoino, que prega a necessidade de alianças eleitorais. Apesar do esforço que vem fazendo desde 89, Lula não é um candidato que tranquilize o eleitorado. Equilibrada sobre a frágil convivência entre os radicais e os moderados de sua legenda, a candidatura de Lula está associada à idéia de desordem. Lula é, em parte, responsável pela própria sorte. Houve instantes em que o impasse interno no PT chegou ao seu limite. Uma palavra do candidato bastaria para dar um norte ao partido. Mas Lula, que pende para o lado Genoino, absteve-se de opinar. Tome-se o exemplo da revisão constitucional. A bancada do PT no Congresso, majoritariamente moderada, queria reformar a Carta. Os radicais foram contra. Para decidir o impasse reuniu-se a Executiva do partido. Houve um empate: 8 a 8. Lula não votou. O boicote à revisão tornou-se um dos calcanhares-de-aquiles da campanha petista. A necessidade de modificar a Constituição é quase consensual. Hoje, a ambiguidade do PT manifesta-se na discussão que o partido trava em torno da nova moeda, o real. Reforça-se a noção de instabilidade, de desordem. O que mata a candidatura de Lula é a vida interna de seu partido, em eterna ebulição. Fernando Henrique gosta de dizer que a vitória de Lula mergulharia o país num ambiente de "Terra em Transe", numa referência à obra prima de Glauber Rocha. O eleitor parece concordar. Texto Anterior: Encontro mostrou divisão Próximo Texto: FHC promete investir R$ 70 bi em 4 anos Índice |
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