São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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A vida mata o PT

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pergunte-se a Antônio Carlos Magalhães e a Jorge Bornhausen o que acham da participação do Estado na economia. Embora um esteja na Bahia e outro em Santa Catarina, os dois dirão a mesma coisa. Quando terminarem de falar, ninguém terá dúvidas: o PFL de ambos é a favor da privatização de estatais.
Faça-se o mesmo com Tasso Jereissati e Fernando Henrique Cardoso. Um, no Ceará, dirá o mesmo que o outro, em São Paulo. Opinarão pela necessidade de enxugar o Estado-empresário.
Experimente-se agora fazer a mesma pergunta para outras duas pessoas: Markus Sokol, o trotskista que cuida do setor de comunicação do PT, e José Genoino, o deputado federal petista que se caracteriza pela revisão dos conceitos marxistas. Sokol dirá que é contra o programa de privatização de estatais. E Genoino não lhe endossará as palavras.
O que está matando o PT nesta eleição é a diferença entre a turma de Sokol, que deseja um partido voltado para o próprio umbigo, e a tribo de Genoino, que prega a necessidade de alianças eleitorais.
Apesar do esforço que vem fazendo desde 89, Lula não é um candidato que tranquilize o eleitorado. Equilibrada sobre a frágil convivência entre os radicais e os moderados de sua legenda, a candidatura de Lula está associada à idéia de desordem.
Lula é, em parte, responsável pela própria sorte. Houve instantes em que o impasse interno no PT chegou ao seu limite. Uma palavra do candidato bastaria para dar um norte ao partido. Mas Lula, que pende para o lado Genoino, absteve-se de opinar.
Tome-se o exemplo da revisão constitucional. A bancada do PT no Congresso, majoritariamente moderada, queria reformar a Carta. Os radicais foram contra. Para decidir o impasse reuniu-se a Executiva do partido.
Houve um empate: 8 a 8. Lula não votou. O boicote à revisão tornou-se um dos calcanhares-de-aquiles da campanha petista. A necessidade de modificar a Constituição é quase consensual.
Hoje, a ambiguidade do PT manifesta-se na discussão que o partido trava em torno da nova moeda, o real. Reforça-se a noção de instabilidade, de desordem.
O que mata a candidatura de Lula é a vida interna de seu partido, em eterna ebulição. Fernando Henrique gosta de dizer que a vitória de Lula mergulharia o país num ambiente de "Terra em Transe", numa referência à obra prima de Glauber Rocha. O eleitor parece concordar.

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