São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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Sentimento vai da revolta à culpa

DA REPORTAGEM LOCAL

Revolta, impotência, abandono, solidão, culpa e inveja. Quem perde o pai na adolescência pode sentir tudo isso, segundo a psicóloga Maria Ângela Siena Waeidle.
"A culpa é muito comum, com sentimento de que não foi um bom filho, de que alguma coisa que ele fez pode ter causado essa morte", diz.
Para o psicólogo Fernando Megale, 26, o adolescente que perde um dos pais fica sem referências com as quais se identificar.
"Mas o adolescente acaba encontrando outras pessoas para servir de parâmetro, o que é um jeito de construir a personalidade", diz Megale.
"O adolescente passa a ter fantasia, idealização do que seria o seu pai ou a sua mãe se não tivesse morrido. A transferência para figuras de autoridade vai ajudando a elaborar a perda", diz.
Waeidle perdeu a mãe quando tinha 15 anos. Hoje, mãe de dois filhos, diz que ser mãe é uma possibilidade de resgatar não ter podido ser filha durante muito tempo.
"Isso influencia na maneira de tratar o seu filho. Você quer dar algumas coisas que parece que não vai ter muito tempo. Eu comento isso com a minha filha e ela fala 'mas mãe, você não vai morrer agora', e eu digo que também acho que não".
Megale afirma que a reação da perda varia muito entre as pessoas. "Cada um acaba tendo um jeito de lidar com isso. Uns falam muito, outros não".
Para Megale, a morte pode ser "uma chance de repensar algumas questões da própria vida, de amadurecer mais rápido", diz o psicólogo.

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