São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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A débâcle do PT

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – O PT tenta responder neste momento a duas questões. Primeira: onde foi que errou? Segunda: ainda há tempo para virar o jogo?
A seis semanas da eleição, o partido parece completamente perdido. Um sintoma da falta de rumo é a troca de acusações entre as suas lideranças.
Enquanto a candidatura Lula reinava absoluta, todos eram competentes. A disputa interna era para ver quem era o mais responsável por aquela performance aniquiladora.
Agora que a vitória que parecia certa escorre pelas mãos, o partido caça bruxas em vez de se debruçar sobre seus erros. Talvez descubra tardiamente que tenha crescido de forma artificial.
O Plano Real colocou para o PT uma questão que ele não estava preparado para responder: e se o país der certo sem precisar de uma "revolução" petista?
Não é que o país necessariamente vá dar certo com o plano. Os problemas estão sendo represados e vão explodir mais para frente, como foi no Cruzado. Mas isso não importa neste momento do jogo eleitoral.
Importa é que as pessoas voltaram a ter a sensação de que o país pode dar certo sem grandes traumas (como congelamentos e confiscos) e sem que tenha de experimentar as incertezas de um governo petista.
Enquanto não havia alternativa, até que Lula era uma opção para esta maioria que em menos de um mês bandeou de lado. Lula era "um pouco radical", mas honesto e compromissado com a solução dos problemas sociais.
Ficou evidente que não era o bastante para garantir sua vitória. E o PT, frequentemente arrogante, não percebeu que o jogo tinha virado.
Mais. Só agora, às vésperas da derrota, o partido descobre que o sectarismo de seus grupos lhe debilitou internamente. Enquanto crescia nacionalmente, isso não era problema. Agora, é trágico. Vide as dificuldades que enfrentam seus candidatos aos governos do RS e do Rio e Erundina, em SP.
O que mostra, outra vez, que os problemas do PT estão entranhados no partido e não há marketing que dê jeito.
O partido terá imensas dificuldades para reverter o quadro atual. Mesmo com a tardia mobilização da militância.

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