São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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As mãos de Fernando Henrique

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Através de qualificados assessores, Fernando Henrique Cardoso está enviando um recado ao PT: o partido, se quiser, terá espaço em seu governo. Pelo jeito, ele corre o sério risco de compor o "Ministério Rexona" –sempre cabe mais um.
Por várias vezes em contato com esta coluna, Fernando Henrique disse que, se vitorioso, não repetiria a divisão rasteira de cargos. Escolheria o "melhor" para cada ministério. Caso o "melhor" estivesse no PT, tudo bem.
Difícil saber se o senador está iludindo o interlocutor ou se está iludindo a si próprio. Já há abundantes indícios de que a disputa por cargos será duríssima. A cada dia aumenta o número de adesões. Até a ala fluminense do PPS, ex-PCB, aliada de Luiz Inácio Lula da Silva, bateu rumo aos tucanos.
Especialista imbatível na disputa por cargos, o PFL já prepara uma estratégia –aliás, do ponto de vista fisiológico, uma correta estratégia. Os dirigentes do partido (leia-se Antônio Carlos Magalhães) sabem que, apesar das juras de amor públicas, ainda não foram aceitos pelos tucanos.
O PFL quer eleger uma forte bancada de deputados e senadores, capaz de colocar a faca na garganta de Fernando Henrique. Lembre-se que ele prometeu como primeiro ato de seu governo mudar a Constituição, a fim de facilitar manutenção de preços estáveis.
E, aí, Fernando Henrique vai ter que buscar votos no Congresso. Lá, os partidos, claro, tendem a mostrar maior ou menor dose de patriotismo e desprendimento utilizando um critério: maior ou menor atendimento de suas reivindicações.
Ele vai encontrar filas de mãos: não aquelas mãos espalmadas de sua campanha. Mas ligeiramente encurvadas para dentro, num festival explícito de mendicância.
Já é difícil ver um ministério composto por gente do PMDB, PFL, PTB, PSDB, PP e, quem sabe, até PPR. Imagine-se, então, com o PT. O problema da busca desenfreada do consenso é sua capacidade de paralisar. Ninguém fica muito aborrecido. E, ao mesmo tempo, ninguém fica muito satisfeito.

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