São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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Infinita enquanto dure

Seria o fim de mais um pesadelo? O anúncio do Exército Republicano Irlandês (IRA) de cessação total de sua campanha terrorista pelo fim da soberania britânica na Irlanda do Norte parece integrar uma sucessão de acontecimentos auspiciosos neste fim de século, como a derrocada das ditaduras comunistas no Leste Europeu, o acordo de paz entre israelenses e palestinos e o fim do apartheid na África do Sul.
Especificamente, há que se saudar o abandono da violência terrorista, deplorável por tudo que representa de negação do conceito de civilização. O terrorismo parece estar cada vez mais circunscrito ao âmbito do fanatismo religioso, principalmente de grupos islâmicos radicais. A polarização ideológica da Guerra Fria, que era invocada para justificar tais ações injustificáveis, hoje é peça de museu. A prisão do terrorista Carlos, o Chacal, é repleta de simbologia sob esse aspecto.
É por certo temerário tentar estabelecer ligações entre todas as boas novas deste fim século. O fim da Guerra Fria e o cessar-fogo do IRA, por exemplo, dificilmente podem ser enquadrados num mesmo contexto de transformações. Mas esses eventos como que se inserem numa espécie de maré de bom senso a invadir os corações e mentes dos que se batiam por questões que tudo indicava seriam insolúveis.
É preciso ter claro que essas núpcias com a civilidade têm que ter um forte respaldo em ações concretas que cotidianamente as vivifiquem. A negociação, que muitas vezes se mostrou inimaginável em questões complicadas como as do Oriente Médio e do IRA, revelou-se afinal a única saída possível.
A paz duradoura parece contrastar teimosamente com a dinâmica da vida social. Hoje pode-se testemunhar que a história não terminou, mas também que a paz possível finca sua bandeira em pontos significativos do planeta. Que seja infinita enquanto dure.

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