São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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Grupo do Rio quer influir em encontro com Clinton

OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A 8ª cúpula presidencial do Grupo do Rio começa hoje com a pretensão de influir substancialmente na agenda na reunião que o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, convocou para dezembro, em Miami.
Chefes de Estado de 14 países estão reunidos no Rio para tentar introduzir assuntos de seu interesse na Cúpula das Américas, invertendo as prioridades sugeridas pelos Estados Unidos.
O documento básico foi discutido ontem pelos chanceleres e, ao final do dia, tudo indicava que havia-se conseguido um consenso.
A imprensa não teve acesso aos debates, realizados no Hotel Glória, na zona sul do Rio.
O pleito do Grupo do Rio será levado ao governo americano em 21 de setembro por representantes da "troika", os três países que coordenam os trabalhos (Brasil, Equador e Chile).
Os países latino-americanos querem transformar a Cúpula das Américas num fórum de debates que possa dar origem a benefícios concretos para a região. Vão procurar que o encontro não termine apenas em retórica.
Eles querem, por exemplo, mais financiamentos para projetos de desenvolvimento, mais comércio internacional e maior acesso a tecnologias avançadas.
A questão da transferência de tecnologia foi uma das últimas a ser definida. Ontem à tarde, os chanceleres estavam dando os últimos retoques na redação desse item do documento.
A dificuldade resultou do fato de os países terem diferentes graus de acesso à tecnologia. No final, prevaleceu a noção de que restrições à transferência de tecnologia nuclear não devem contaminar outras áreas, como computação.
O documento, que tem sete páginas, aborda outros temas sobre os quais não há maiores divergências, como o combate ao tráfico de drogas e à pobreza.
O encontro dos chanceleres acabou dominado em grande parte por assuntos que não constavam da pauta. Além da ameaça de invasão do Haiti pelos Estados Unidos, debateu-se também o fim do bloqueio comercial a Cuba.
O presidente da Venezuela, Rafael Caldera, que não participou dos debates, chegou ao Rio com uma proposta. Sugere um apelo para que Cuba realize eleições livres em troca do fim da embargo. A idéia será debatida hoje pelos chefes de Estado.
Caldera, 78, não tem procuração de Fidel Castro mas, entre os presentes, talvez seja quem tenha maior autoridade para levar a proposta. Seu governo, embora esteja longe de lembrar o socialismo, caminha na contramão do neoliberalismo e coloca a questão social na frente do mercado.
A cúpula termina amanhã. Depois de mais uma rodada de debates pela manhã, haverá assinatura de declaração dos presidentes.

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