São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994 |
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Não podemos prostituir o nosso futebol
WANDERLEY LUXEMBURGO
A modernidade não significa números em uma formação tática. Por exemplo, 4-4-2, 4-5-1, 3-5-2 etc. Um exemplo de modernidade é o vôlei. O técnico José Roberto Guimarães implantou na nossa seleção jogadores versáteis, que podem ter, na quadra, múltiplas funções. Marcelo Negrão, cortador de ponta-de-rede, aprimorou outros fundamentos e pode ser usado em todos os setores da quadra. Com eficiência. Como Marcelo Negrão, todos evoluíram neste sentido. Com esta linha de trabalho, o vôlei brasileiro surpreendeu na Olimpíada de Barcelona, conquistando a medalha de ouro com um jogo bonito, competitivo e participativo. Nós podemos implantar isto no futebol brasileiro, trabalhando dentro das formações táticas existentes. No futebol participativo, todos devem e podem atacar e defender com responsabilidade e sem prostituir as características do futebol brasileiro. Se o atacante é marcado pelo zagueiro, nós podemos treinar este atacante para marcar o zagueiro também. O volante (meia defensivo) pode ser o marcador que todos nós conhecemos, só que, no futebol participativo, ele tem que atuar no jogo com maior versatilidade: marcar, criar, lançar e finalizar. Uma equipe não fica mais ofensiva por jogar com três, quatro ou cinco atacantes nem mais defensiva por jogar com cinco zagueiros e três volantes. O futebol moderno e participativo que desejo busca o equilíbrio: o time tem que ser forte ofensiva e defensivamente. Este trabalho tem que começar nas categorias de base. É preciso ensinar ao atleta a necessidade de aprimoramento de todos os fundamentos do jogo para uma melhor desenvoltura dentro do campo. A Copa dos EUA não mostrou nada de moderno. Nenhuma formação tática diferente das que já conhecemos, nem o futebol participativo que gostaria de ver. O que se viu foi uma Copa sem criatividade e com esquemas ortodoxos. Foi ótimo para o Brasil a conquista do tetracampeonato, mas esta Copa me deixou bastante preocupado em relação ao futebol mundial. Se ele continuar nesta linha de conduta, fatalmente a plástica, a beleza e a magia do futebol serão ofuscadas, cedendo lugar ao futebol burocrático e feio a que assistimos na Copa. Devemos aproveitar este momento para dar o exemplo de que o Brasil ainda é o país do futebol, sem prostituirmos as nossas características. Os meios de comunicação têm uma participação importante para que o futebol brasileiro possa alcançar esse novo estágio, cobrando de todos nós, profissionais do esporte, não esquemas táticos, mas sim a evolução do atleta na sua participação dentro do jogo. Cabe também aos clubes uma parcela importante de responsabilidade para que o nosso futebol atinja essa modernidade. Os clubes precisam modernizar os seus departamentos de futebol, dando aos atletas a formação mais completa possível. Para isso, é necessário que as comissões técnicas sejam integradas por especialistas de diversas áreas e não apenas pelo técnico, o preparador físico, o médico e o preparador de goleiros. É necessária também, por exemplo, a presença de um nutricionista, um fisiologista, um psicólogo e um sociólogo. Com isso, os atletas teriam muito mais condições de se desenvolver e o técnico poderia extrair de cada um deles todas as suas potencialidades. Texto Anterior: Aldair pode deixar a equipe da Roma; América do Sul quer cinco das 32 vagas; Zagalo pede fim do cartão amarelo; Dirigente não quer volta de suspensão; Clube não pagará dívida a Marcelinho; Cilinho é suspenso por 120 dias Próximo Texto: A ambição da Uefa Índice |
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