São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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A ambição da Uefa

SILVIO LANCELLOTTI

A ambição da UefaComeçou com uma rodadíssima, 18 jogos num único dia, a fase eliminatória do Euro-96, o maior campeonato de seleções do planeta. Começou com inúmeras surpresas, prova cabal do novo equilíbrio do futebol no mundo e da força do esporte no Velho Continente. Menos do que o inesperado de alguns resultados,porém, eu prefiro comentar a grandiosidade do torneio. Perto de 600.000 pessoas presenciaram as 18 pelejas, à média de quase 35.000 por combate, um número magistral.
O Continente quer mesmo impactar o resto da Terra. Até o final da eliminatória, em novembro de 95, haverá outras dez suprr-quartas com um maremoto de cotejos –e, sem dúvida, no correr do temo e depois do afunilamento dos candidatos às 15 vagas na fase final do Euro, a média de público vai aumentar. A Uefa, a entidade que organiza o futebol por lá,pretende que a média dos 15 privilegiados seja superior à cota dos 45.000, excelente num torneio tão extensivo e tão abrangente.
Por que tanta ambição? Razões políticas,lógico. Embora não pareça e embora não se perceba, são cada vez mais aguçadas e mais fogosas as brigas pelo poder nos bastidores do futebol internacional. Uefa batalha para garantir o máximo de vagas na Copa da França/98 –e para diminuir o espaço de manobra da tropa de choque do brasileiro João Havelange, o presidente da Fifa desde 1974.
No dia 28 de outubro, em Nova York, uma reunião da Fifa decidirá o formato da Copa da França, a distribuição de 32 vagas pelas várias regiões do globo. Com sete nações qualificadas entre oito das quartas-de-final dos EUA-94, com 48 disputantes no seu Euro, o Velho Continente se considera com direito a exigir no mínimo a metade das vagas disponíveis para 98 –ou, 16 em 32.
Havelange, de seu lado, ostenta compromissos de sobrevivência com os seus eleitores de Terceiro Mundo, principalmente os africanos e os asiáticos, a quem costuma prometer o sol e as estrelas em troca da sua eternidade no cargo. Melhor para o brasileiro, fazem o seu apoio patrocinadores fundamentais, os verdadeiros donos da Copa e, indiretamente, da própria Fifa.
Figura crucial no equilíbrio dessa guerra é o secretário-geral da entidade,e o suíço Joseph Blatter, um funcionário invariavelmente oportunista, ora em favor da Uefa, ora em favor de Havelange. Durante o certame dos EUA, o esperto Blatter provocou como pôde o vice de Havelange, o italiano Antonio Matarrese, humilhando os dois árbitros da Bota, Fabio Baldas e Pierluigi Pairetto, conseguindo uma suspensão recorde de oito pugnas para o lateral Mauro Tassotti. Agora, porém, Blatter trabalha pela causa da Uefa. Na reunião de Nova York se verá em que limites.

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