São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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Ainda falta sabor nos restaurantes de hotel

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Restaurante de hotel tem fama de ser insípido –e de fato costuma ser. Uma experiência recente confirma esta maldição. O Hilton enfrentou o desafio de dar personalidade e subir o patamar de qualidade de seu principal restaurante, que passou a se chamar Aragosta: não conseguiu.
Aberto em julho, o restaurante fica no primeiro andar do hotel, onde foi o The Harvest. Nos moldes da boa hotelaria, ele mantém um padrão de qualidade na escolha de ingredientes, na limpeza, no serviço.
O que talvez baste para um hóspede que só quer comodidade. Ao divulgar a abertura do Aragosta, porém, o Hilton acenou com novidades no aspecto gastronômico. É nisto que fica ainda a dever.
O Aragosta tem ambiente monotonamente padronizado, com cara de hotel. Nem o piano, nem os enfeites de produtos, conseguem dar-lhe calor. O esmero visual talvez ajudasse a diminuir a prevenção com que normalmente a clientela local encara os restaurantes de hotel. Reforçaria outra medida adotada, esta simpática: somente moças cumprem as funções de maŒtres e garçons.
O nome Aragosta (lagosta) revela a inspiração italiana do cardápio, embora possa sugerir que seja este crustáceo, ou frutos do mar, a sua especialidade. Só há lagosta em duas entradas e num prato principal.
O restante do cardápio passeia por várias regiões da Itália. As receitas, segundo informação do hotel, foram enviadas por chefs de cozinha da rede Hilton em outros países. Aqui, elas são supervisionadas pelo chef Adauto Rodrigues.
Os antepastos podem ser escolhidos no carrinho, em que há marinados de polvo, truta, atum e legumes. São melhores que, por exemplo, um folheado de vieiras ao pesto em que o folheado é na verdade uma massa dura, e o pesto virou, sem aviso, um enjoativo e óbvio molho branco. E por falar em molho branco, recurso fácil de restaurantes padronizados de hotel, não é preciso dizer que é ele mesmo que mascara o sabor do prato forte da casa, a lagosta, aliás cozida além do ponto.
Receitas que fogem do óbvio mostram a busca da novidade, como o linguado ao aniz, as pappardelle ao molho de coelho ou o pato assado ao alecrim. Mas cometem deslizes: como o carneiro cozido com aipo, alcachofras e erva-doce, que não revela os sabores dos ingredientes, além de merecer mais tempo de cozimento. Os pratos não escapam do padrão mínimo, justamente o desafio mais difícil de superar.

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