São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Só 11% trabalham em atividade-fim

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A administração direta brasileira mais parece uma obra do surrealismo administrativo. Ninguém consegue explicar sua racionalidade.
São 41 conselhos, 71 secretarias, e mais subchefias, subsecretarias, consultorias ou comissões.
É possível simplificar os tentáculos do Executivo, mas seria necessário, antes de mais nada, definir politicamente um modelo coerente de Estado.
É o que ainda não foi feito. Diante de tal indefinição, falar em reforma administrativa é mero exercício retórico.
Idéias é que não faltam. A Enap (Escola Nacional de Administração Pública) possui nada mais que 186 referências sobre reforma administrativa em sua mais recente bibliografia sobre o assunto.
É possível reconstituir, sumariamente, as razões que levaram o organograma federal a crescer de forma hoje descontrolada.
Em 1930, o Estado deixou de ser uma mistura de polícia e guichê para a venda de selos de impostos. Passou a orientar o crescimento da economia e a intervir na área social.
A partir de 1967, já com o regime militar, quis controlar de forma descentralizada todos os setores de atividade social. Agigantou-se com autarquias e fundações.
Mas cresceu de modo errado. Só 11% dos técnicos e servidores atuam em atividades-fins. O resto é chefe e burocracia. Ou ainda: 45,8% estão concentrados no eixo Rio-Brasília.
Um diagnóstico minucioso seria hoje difícil de ser feito. O governo Itamar, a quatro meses do fim, só agora prepara um organograma definitivo da administração pública.
Ele também não sabe o número exato de servidores e onde estão alocados. Em cifras redondas, eram quase 1,9 milhão antes das privatizações do último ano e meio, dos quais 550 mil eram aposentados ou pensionistas.
Estimativas recentes da SAF (Secretaria da Administração Federal) informam que, excluídas as estatais, há um 1 milhão e 70 mil funcionários.
Digamos que, por hipótese, essa multidão esteja alocada em repartições públicas necessárias e com funções definidas.
Mesmo assim, inexiste qualquer estudo detalhado sobre a velocidade e o fluxo de informações internas, delegação de decisões e outros critérios óbvios que agilizam a gestão no setor privado.
Existem, isso sim, experiências apenas pontuais. A Marinha fala em implantar a reengenharia e a qualidade total para suprir a falta de quadros que diagnosticou em sua estrutura.
Estes últimos, ao assumirem um ministério, passam a interpretar qualquer corte no organograma como um sinal de enfraquecimento e desprestígio.

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