São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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O novo PT

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há uma teoria segundo a qual todo ser humano tem o seu limite. Mesmo as cabeças mais qualificadas cedo ou tarde encontrariam o obstáculo definitivo. Por analogia, pode-se aplicar o raciocínio aos partidos políticos, na verdade aglomerados de pessoas em suposta sintonia de propósitos.
As pesquisas de opinião preconizam o encontro de Lula e do PT com o seu limite. Se forem de fato derrotados nesta eleição presidencial, os petistas terão esbarrados no seu momento fatal.
Um PT derrotado não escapará à revolução interna. Que o partido vai mudar, não há a mais remota dúvida. O fracasso é desagregador. A questão agora é saber que feições assumirá o novo PT.
Há duas alternativas: ou o partido cairá definitivamente em mãos radicais, ou será conquistado pelos moderados. Não haverá mais espaço para a convivência entre facções rivais.
Sob domínio xiita, o PT acabará como um PT do B pós-moderno. Tendo como modelo o clube de fanáticos de Elvis Presley, o partido adotará o bordão "o socialismo não morreu".
Sem votos, seus filiados revisitarão o marxismo. Gastarão o tempo xingando a burguesia e sonhando com o dia em que o proletariado deterá o controle sobre os meios de produção.
Se for controlado pelos petistas da ala cor-de-rosa, o PT será uma espécie de novo PSDB.
Às voltas com o PFL e o seu liberalismo tupiniquim, os tucanos enfrentarão o inevitável processo de "endireitamento", abrindo espaço para a aparição de uma nova linhagem de sociais-democratas.
O horizonte eleitoral une momentaneamente os petistas. Vive-se no partido o momento do "abraço dos afogados", como bem define um representante do pelotão moderado do PT.
Como náufragos em meio à tempestade, os petistas agarram-se uns aos outros na vã expectativa de salvarem-se todos. É na hora da contagem dos votos que o novo perfil do PT começará a ser desenhado.
Todos no partido já enxergaram a inevitabilidade da guerra pela hegemonia da legenda. Não será mais possível a Lula equilibrar-se sobre as diferenças do PT.
Aliás, o próprio Lula será enfileirado junto aos corpos que restarem do naufrágio. É preciso verificar se será considerado politicamente morto ou apenas ferido.

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