São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Programa de Enéas prevê "emergência econômica"

MAURICIO STYCER; VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando as urnas se fecharem no dia 3 de outubro, o cardiologista Enéas Carneiro pode ter levado o Prona pelo menos ao terceiro lugar na corrida pela Presidência, posto que disputa com Orestes Quércia (PMDB) e Leonel Brizola (PDT), segundo pesquisas Datafolha.
Se ganhasse a eleição, Enéas, candidato do Partido de Reedificação da Ordem Nacional, implantaria "medidas de choque, enérgicas", para colocar ordem na economia.
A idéia está prevista no programa de governo do Prona, "Um Grande Projeto Nacional", volume de 184 páginas com as propostas do partido.
O choque de Enéas seria chamado de "Estado de Emergência Econômica". Haveria prefixação de preços e salários, com tabelas divulgadas pelos meios de comunicação. Infratores seriam punidos com energia.
A passagem para a "normalidade" teria medidas econômicas "ortodoxas": controle rígido da emissão de moeda, ataque aos oligopólios e adoção de nova moeda –o cruzeiro.
O Prona, mais do que achar o real eleitoreiro, o considera "diabólico". Nas medidas macroeconômicas, o plano de Enéas não está muito longe dos demais partidos de oposição.
É um programa para obter recursos públicos e privados para financiar a infra-estrutura, para que o país volte a crescer, baseado em aumento de salários e baixa da taxa de juros.
Na área de educação, Enéas faria as escolas brasileiras voltarem aos métodos e práticas de 30 anos atrás.
Em sua "grande cruzada moral e educacional", apoiada por um "Estado forte, técnico e intervencionista", o Prona, no poder, acabaria com o 1º grau e traria de volta os cursos primário (quatro anos) e ginasial (outros quatro anos).
Ao fim dos primeiros quatro anos, preconiza o partido, os alunos seriam obrigados a fazer um exame de admissão ao ginasial –prática abolida na última grande reforma educacional no país, no início dos anos 70.
Toda escola, segundo Enéas, deveria funcionar em tempo integral e –seja pública ou particular– obrigar as crianças a assistir, diariamente, ao hasteamento da bandeira e cantar o hino nacional.
Escrito no mesmo tom agressivo e simplista das aparições do candidato na TV, o programa do Prona é repleto de pontos de exclamação e palavras destacadas em letras de cor mais escura que o normal.
Um exemplo: "Serão padronizados os livros didáticos adotados em todo o país. Chega de livros consumíveis! Nada de impressão a quatro cores! Poremos um fim nessa verdadeira orgia editorial."
Como na televisão, no programa de governo Enéas abusa de palavras de uso nada corrente ou do vocabulário médico. "A sociedade brasileira está doente. Padece de um quadro de atetose, expressão que traduz, em linguagem médica, uma certa forma de incoordenação motora", escreve.
"Autoridade" aparece em quase todas as páginas. O Prona alterna referências ao fato de o país viver "uma absoluta crise de autoridade" com pedidos sobre a necessidade de ser eleito um "governo legítimo com autoridade".

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