São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Alberto Goldman defende reforma do Estado e o voto distrital misto

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal Alberto Goldman (PMDB-SP), 56, concorre este ano a seu quarto mandato no Parlamento federal, com a bandeira da reforma do Estado.
"Sem isso, o Plano Real vai por água abaixo, a retomada do crescimento econômico é uma fantasia e qualquer hipótese de estabilidade torna-se uma grande mentira", disse Goldman à Folha em entrevista concedida na manhã de terça-feira.
Goldman, engenheiro civil formado pela Politécnica de São Paulo, já exerceu também dois mandatos como deputado estadual, foi secretário de Administração no governo Orestes Quércia (87/91) e ministro dos Transportes, no primeiro período da gestão Itamar Franco.
Folha - Se o sr. tivesse que apresentar apenas um projeto, no seu primeiro dia de Câmara dos Deputados, qual seria?
Goldman - A questão principal do Brasil hoje é a reforma do Estado. E, para fazer a reforma do Estado, o primeiro e mais urgente passo é a reforma tributária.
Sem isso, o Plano Real vai por água abaixo, a retomada do crescimento econômico é uma fantasia e qualquer hipótese de estabilidade torna-se uma grande mentira.
Esse primeiro passo é urgentíssimo e já deveria ter sido dado. Folha - Quais seriam as linhas gerais dessa reforma tributária?
Goldman - Evindentemente, uma das linhas é a simplificação, mas a espinha dorsal da reforma tributária é eliminar ao máximo impostos que onerem a produção, como no mundo todo.
No mundo inteiro, você joga o peso principal dos impostos em cima do consumo, não em cima da produção.
Folha - O sr., pouco antes de assumir o Ministério dos Transportes, tinha como prioridade na sua agenda a reforma partidária, eleitoral. Depois, foi para um ministério técnico e mudou um pouco de rumo...
Goldman - Eu procurei colocar no ministério esse conjunto de idéias de reforma do papel do Estado. Iniciei todo um processo de concessão dos serviços de manutenção, preservação e construção de estradas.
Apressei também o processo de concessão na área ferroviária e, na área portuária, também vários editais foram colocados para a participação do setor privado por meio de concessões.
Quanto à questão política, entendo que um dos pontos mais importantes é nós chegarmos ao voto distrital misto.
Hoje, de fato, o voto já está distritalizado, mas de uma forma que parece o voto distrital puro, o que transforma os deputados federais em vereadores nacionais, pela própria pressão das bases.
Essa é uma questão essencial para que se possa construir partidos políticos, tendo representantes eleitos em parte pelos distritos, respeitando a tendência atual, mas ao mesmo tempo abrindo um conjunto de vagas para aqueles que pensam o Brasil no seu conjunto.
Folha - Em termos partidários, que tipo de reformas o sr. defende?
Goldman - Acho que não é uma questão de ordem legal ou constitucional. O sistema partidário implodiu.
Ele vai até o processo eleitoral por inércia, mas não tenho dúvidas de que no ano que vem teremos um quadro diferente, porque esse sistema que veio depois do término do período autoritário não responde hoje às necessidades de se ter um Congresso funcionando, uma vida política democrática.
Folha - Em termos pessoais e/ou partidários, o sr. participaria dessa frente ampla que está se formando em torno da candidatura Fernando Henrique e que tende a se ampliar se ele for eleito?
Goldman - Eu preferiria participar, se houver essa hipótese que você coloca, de maneira independente, ou seja, sem apoios formais, apenas discutindo um programa de governo.
Se o programa de governo for compatível com essas reformas que acho necessárias, estou disposto a apoiar. Mas, se formos derrotados nesse processo eleitoral, a nossa postura deve ser de independência.
Folha - Se houver a derrota do candidato do PMDB, tal como indicam hoje as pesquisas, ficaria um enorme espólio disponível porque o partido ainda fará uma grande bancada federal. Como o sr. vê o futuro do PMDB?
Goldman - Pensar em cima da hipótese da derrota não me parece correto. Estamos em um processo eleitoral e, nessa situação, você não parte da hipótese de derrota.
Mas, independentemente do resultado, é evidente que nós vamos ter uma reformulação profunda no partido, à medida em que não se obteve a coesão desejada, pelo menos ao nível das cúpulas.
Essas bases devem emergir nesse processo, fazendo uma profunda mudança interna contra aqueles que tradicionalmente constroem a sua vida política em cima do poder, que não mudam quando muda o poder, porque o poder é que muda, eles não. São questões que vão ter que resolvidas internamente.
Folha - A imagem dos políticos parece ter chegado ao pior ponto possível. Quais as causas e como corrigir tal situação em um prazo razoavelmente breve?
Goldman - É um processo cultural. Os homens eleitos muitas vezes o são em função do poder econômico ou das trocas de favores. A consequência é o Congresso que está aí.
Em todos os pronunciamentos que faço, chamo a atenção para isso. O voto no congressista é um voto muito importante. Ele não pode ser modificado nos próximos quatro anos.
O eleitor não pode trocar o voto por um benefício pessoal qualquer, pois o congressista passa a não ter compromisso algum com a sociedade nem com o próprio eleitor. Ele já pagou ao eleitor que lhe deu o voto. O compromisso dele é com seus próprios interesses.

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