São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Disputa no Paraná resvala na baixaria

MÔNICA SANTANNA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A eleição para o governo do Paraná não é apenas a mais disputada do país, mas também a que tem reciclado, até agora, os piores usos e costumes de uma disputa eleitoral.
Na sequência de golpes baixos, não têm faltado nem mesmo manifestações de anti-semitismo, que, se não são inéditas na história brasileira, pelo menos não integram com frequência o rol das baixarias nacionais.
Outro dado que reveste de particularidades a eleição no Estado é que ela pode se resolver já no primeiro turno, com uma distinção: até o último levantamento feito pelo Datafolha, não havia candidato favorito.
Jaime Lerner, do PDT, aparecia na pesquisa do dia 29 de agosto com 44% dos votos. Seu adversário do PP, Álvaro Dias, estava no mesmo patamar, com 43%.
Mas há mais. No Estado, os dois candidatos disputam espaço no palanque do presidenciável tucano, Fernando Henrique Cardoso.
Dias, embora não integre a aliança do PSDB-PTB-PFL que quer eleger FHC, emprestou seu apoio ao tucano. Lerner sofre a cobrança do presidenciável pedetista, Leonel Brizola. É um voto infiel não-declarado.
Os dois candidatos disputam palmo a palmo hoje os votos dos 5,045 milhões de eleitores. O candidato do PT, Jorge Samek, aparece em terceiro, com 2%, e os candidatos do PL, José Antônio Cardoso, e do PRN, Rosemeri Kredens, com 1% cada.
Embora empatados trecnicamente segundo o Datafolha, pode-se dizer, no entanto, que a tendência é desfavorável a Dias.
Há um mês, Lerner ocupava o segundo lugar no Datafolha com 38% das intenções de voto. Empatou tecnicamente com Álvaro Dias, que vinha ocupando a liderança com uma diferença média de 13 pontos.
Ataques
Nas últimas semanas, a disputa entre os dois candidatos ficou mais acirrada. Jaime Lerner usou o horário gratuito para lembrar o confronto entre os professores e a PM durante o governo de Dias, em 88.
O episódio marcou o governo de Dias porque a PM usou bombas para dispersar os manifestantes. Dias recorreu ao TRE e conseguiu direito de resposta.
Anti-semistismo
Na última semana, Lerner teve 15 dos seus outdoors pichados com as incrições "judeu" e "anticristo" e o número 666, que, segundo o pensamento místico, representa o Demônio.
A pichação coincidiu com a comemoração do ano novo judaico, na última terça-feira, e com a visita à cidade de FHC.
Jaime Lerner acusou Dias pelas pichações, que rebateu afirmando que a idéia pode ter partido da própria coligação que apóia o candidato do PDT.
FHC também opõe os dois candidatos. Dias saiu na frente e declarou seu apoio oficial ao tucano. Ganhou, com isso, o direito de subir no palanque do presidenciável no último dia 19 de agosto, durante uma visita a quatro cidades. FHC chegou a declarar seu apoio ao candidato do PP.
Lerner, na última terça-feira, fez campanha para FHC em Ponta Grossa e Curitiba. Subiu no palanque com o candidato tucano, mas continua declarando seu apoio oficial ao pedetista Leonel Brizola.
O próximo round está com o candidato do PP, que deve subir novamente no palanque de FHC em Londrina, na próxima terça-feira. Dias vai tentar reverter o quadro usando FHC para ganhar votos no seu reduto eleitoral, que é o norte do Paraná.
Lerner atribui sua ascensão às visitas aos municípios do Estado. "Já estive em 270 cidades e, até o próximo dia 3 de outubro, visitarei as cem que restam", afirmou Lerner. "Cada dia eu vou dormir uma hora mais tarde e acordo uma hora mais cedo", disse.
Álvaro Dias decidiu reagir há apenas 15 dias, quando iniciou as viagens pelo interior do Parnaá. "Houve um comodismo de minha estrutura de campanha e da minha parte também", admitiu o candidato do PP.
Dias também visita de 14 a 15 cidades por dia. Ele acredita que isso será suficiente para alterar o quadro. "O entusiasmo é um indicativo da mudança", disse o ex-governador.
O candidato do PP afirmou que a falta de recursos é outro problema enfrentado pela sua campanha. "Estamos fazendo uma campanha franciscana", alegou.
O recado de Álvaro Dias vai para o governador Mário Pereira (PMDB/PR), que não liberou o uso da máquina administrativa estadual como em eleições anteriores.
"Pareço um candidato de oposição e não de situação", reclamou Dias.

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