São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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A inflação de agosto

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Finalmente estão disponíveis os principais índices de inflação do mês de agosto. Depois do estardalhaço provocado pelo IPC-r os números divulgados por vários institutos vieram confirmar a verdadeira inflação da nova moeda.
Apesar da diversidade de critérios adotados, os números convergiram para algo entre 1,8% e 2,0%. Quase metade deste número correspondeu ao impacto do reajuste dos aluguéis. Os leitores da Folha devem se lembrar que este foi um dos poucos preços que não foram convertidos para a URV.
Por interferência do presidente Itamar, que não aceitou as regras propostas pela equipe econômica, os aluguéis passaram direto de cruzeiros reais para reais. Se isto não tivesse acontecido, a inflação de agosto estaria perto de zero.
Aliás, isto fica claro no chamado índice Fipe-Estadão, que não leva em conta o aluguel na sua cesta de consumo. Ele captou estabilidade dos preços públicos e deflação de quase 1% para os preços competitivos.
Outro índice que merece ser citado é o chamado CUB/Sinduscon, que mede o custo da construção civil na cidade de São Paulo. Neste segmento importante da atividade econômica e com característica de total competitividade houve deflação de 0,4% em agosto.
O valor da cesta básica calculada pelo Procon, seguindo metodologia definida pelo Dieese, continuou a cair ao longo do mês. Nesta última sexta-feira seu valor atingiu R$ 96,60, com queda de quase 10% em relação ao dia 4 de julho, primeiro dia útil da nova moeda. Este valor é igual ao verificado no início de março, quando a primeira fase do Plano Real foi implantada.
O comportamento dos preços da cesta básica mostra a importância de uma economia desindexada, pois existe flexibilidade dos preços para baixo. Eles passam a responder novamente à lógica econômica. Mostra também a vulnerabilidade do discurso do PT que continua a insistir na tese, já em parte ultrapassada, da explosão de preços com salários congelados.
Para setembro as previsões iniciais de inflação apontam para um número, dependendo da metodologia adotada, entre 1% e 1,5%. Nada mau para um país que ainda está acordando do pesadelo da hiperinflação.

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