São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Política parabólica

DEMIAN FIOCCA

As confissões indesejadas do ex-ministro da Fazenda, de que antecipou medidas falsamente e escondia ou apresentava dados segundo o interesse da candidatura FHC, serviram de emblema do uso eleitoral do Plano Real.
Mais do que mostrar fatos escandalosos, porém, a revelação teve uma força simbólica, nesse sentido, parabólica.
O carater eleitoreiro do plano não está na condução que a ele imprimiu o ministro. Afinal, a estabilização é uma demanda legítima da população e a engenharia utilizada pelo governo parece desindexar a economia com bastante sucesso, pelo menos até o momento.
O "eleitorerismo" reside, ao contrário, no adiamento do plano, no fato de FHC ter assumido o ministério em maio de 1993 e a estabilização ter-se iniciado em julho de 1994, três meses antes do pleito.
A idéia de estelionato eleitoral é também uma parábola. Não se trata de roubo de votos ou de uma farsa quanto aos objetivos expressos do plano. Ao contrário, está naquilo que a candidatura FHC não diz, na perspectiva, convenientemente silenciada, de que sua estratégia de combate à inflação implique em achatamento salarial da classe média, maior desemprego e exclusão social, como ocorreu nas experiências similares do Chile e da Argentina.

Texto Anterior: Juros e longo prazo no mercado externo
Próximo Texto: A grande contradição dos nossos tempos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.