São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Fundos de commodities rendem até 81%

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo privilegiado de investidores tem motivos de sobra para festejar a rentabilidade das suas aplicações nos dois primeiros meses do real. Boa parte contabilizou valorizações acima do patamar de 40% –em alguns casos, de até 134%– em julho e agosto.
Quem assumiu o risco de perdas, confiando nas estratégias arrojadas de alguns administradores de carteiras, conseguiu ver seu patrimônio se valorizar muito acima da média do mercado.
Os levantamentos da Anbid, associação dos bancos de investimento, mostram que onze fundos de ações carteira livre, com patrimônio líquido superior a R$ 1 milhão em 31 de agosto último, obtiveram rentabilidade superior a 40% nos dois primeiros meses do real. O Itaú Carteira Livre liderou com 134,84% (ver ao lado).
Administradores como os bancos Pactual e Crefisul, por exemplo, concentraram as apostas dos fundos de ações carteira livre –Andrômeda e Crefisul Super Ação, com rentabilidades nesses dois meses de 54,04% e 55,24%, respectivamente– em determinados papéis das Bolsas de Valores e opções da Telebrás.
A rentabilidade média dos fundos de ações carteira livre no mesmo período foi de 27,90%, de acordo com os dados da Anbid.
Pode-se alegar que as carteiras de muitos desses fundos têm perfil de renda fixa, o que reduz a rentabilidade média. Porém, mesmo os fundos mútuos de ações emplacaram um rendimento médio de 32,49% em julho e agosto.
A maior surpresa ficou por conta de três fundos de commodities administrados em parceria com a Linear Administração de Patrimônio S/C Ltda.
As quotas do Fic Prosper-Linear, Griffo-Linear e Top Trade-Linear se valorizaram 81,43%, 47,46% e 36,90%, respectivamente, enquanto a rentabilidade média dos fundos de commodities foi de apenas 10,23% no mesmo período.
No mesmo período, a grande maioria dos investidores teve que se conformar com rendimentos atrelados aos juros nominais baixos da renda fixa, cujo teto foi delimitado pela taxa acumulada de 11,14% pelo CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
A rentabilidade da poupança nesses dois meses foi de 8,34%, a dos fundos de renda fixa 9,05% e a dos fundos DI, 10,56%.
Florian Bartunek, sócio-diretor do Banco Pactual, do Rio de Janeiro, explica que a rentabilidade do Andrômeda foi obtida basicamente no mercado de ações.
É necessária uma pontaria certeira para identificar os momentos certos para comprar os papéis com maior potencial de valorização.
É vital, também, diagnosticar as situações em que convém vender a carteira ou proteger o patrimônio com a venda de contratos futuros de Índice Bovespa.
Bartunek cita o exemplo de fevereiro de 1990, quando o banco decidiu vender todas as ações e substituí-las por debêntures de empresas exportadoras. "O patrimônio das carteiras foi preservado das fortes quedas nas Bolsas de Valores logo após o Plano Collor 1".
"Não há mágica nenhuma nessa rentabilidade, apenas a capacidade técnica de quem administra", diz Carlos Eduardo Castiglione, assessor comercial do Banco Prosper, do Rio de Janeiro.
Ele atribui o bom desempenho da carteira do Fic Prosper-Linear à agilidade do banco em armar e desarmar nos momentos certos as sofisticadas operações de engenharia financeira nos mercados futuros de Índice Bovespa, câmbio e taxas de juros da Bolsa de Mercadorias & de Futuros.
Márcio Luiz de Carvalho, diretor de administração de carteiras do Banco Crefisul, conta que a rentabilidade do Crefisul Super Ação foi resultado de uma política agressiva, que concentrou 58% do patrimônio nos quatro principais papéis do Índice Bovespa –Telebrás, Eletrobrás, Cemig e Vale.
Ela foi complementada pela compra de papéis da chamada segunda linha nobre –Fosfértil e Randon Participações– e por opções da Telebrás com vencimento em outubro.

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