São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Para Platini, a França vai sediar 'o Mundial da festa'

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

Michel Platini, o ex-jogador da seleção francesa nas Copas de 1978, 1982 e 1986, considerado o maior futebolista francês da história, é hoje responsável pela organização do próximo Mundial, que ocorre na França em 1998.
Na entrevista exclusiva que concedeu à Folha, diz que a próxima Copa será melhor para os turistas –"pois haverá mais festa"–, debate as propostas de mudanças no futebol, como a morte súbita, e faz um balanço do último Mundial, que considerou "positivo".

Folha - Qual é a sua avaliação da Copa de 1994?
Michel Platini - A competição foi muito positiva, realmente um sucesso. Muitas coisas explicam o sucesso nos EUA. As equipes foram, de um modo geral, ofensivas, havendo sempre uma vontade de se buscar o ataque. O número de gols ocorridos são a maior prova desse fato. Além disso, os estádios estiveram sempre cheios e houve um bom esquema de segurança.
Ainda assim, não acho que tecnicamente a Copa dos EUA tenha sido uma maravilha.
Folha - Por quê?
Platini - Esse Mundial foi melhor do que a Copa da Itália, não há dúvida, mas não acho que tenha sido excepcional. A Itália, que foi finalista, não esteve muito bem e o Brasil, que ganhou a Copa, não era o melhor Brasil dos últimos 24 anos –acho que o time de 82 era muito superior.
Alguns poderão dizer que o time de 82 perdeu e o time de 94 ganhou. Isso é verdade, pois, embora sempre tenha um time capaz de vencer um Mundial, nem o Brasil consegue ganhar todas.
O time de 94 ganhou, mas não foi uma grande equipe. Ele se beneficiou de Romário, que esteve muito bem, e de Bebeto, que fez um bom Mundial. É engraçado, porque, ao assistir aos jogos, poderíamos dizer que não era uma equipe brasileira, mas uma equipe de algum outro país. Mas, de todo modo, o Brasil mereceu a vitória.
Folha - O que achou do esquema adotado por Parreira?
Platini - Quem faz o esquema são os jogadores e não o técnico. Acho que um time é agressivo se ele tem bons atacantes.
Se um país tem excelentes defensores e poucos atacantes, jogará defensivamente. Um país que joga com Gérson, Rivelino e Zico, por exemplo, não será defensivo jamais, independente do técnico. O técnico tem apenas que ter um mínimo de inteligência e deixar os jogadores fazerem o que sabem.
Prefiro não falar muito sobre o Brasil, apenas constato que seleções passadas apresentaram um melhor futebol. E isso não sou só eu que digo, mas todo mundo.
Folha - O que achou da arbitragem na Copa?
Platini - Os juízes estiveram muito bem. Eles simplesmente aplicaram o regulamento que sempre existiu. O destaque foi Joel Quiniou (juiz francês).
Folha - E quanto ao público?
Platini - Foi um sucesso. Nunca mais veremos uma Copa do Mundo com um público tão grande.
Folha - Nem na França?
Platini - Não. Não temos tantos estádios com capacidade para tantos torcedores.
Folha - E quanto aos pontos negativos da Copa?
Platini - Não vejo muitos pontos negativos. Não houve violência, a arbitragem foi boa, o público esteve presente. É claro que alguns problemas sempre acontecem. Por exemplo, acho que a imprensa teve mais condições de trabalho na Itália do que nos EUA, pois os norte-americanos são melhores em ganhar dinheiro do que em gastá-lo.
Folha - E o fato de a final ter sido 0 a 0?
Platini - Isso foi um ponto negativo, não há dúvidas. Mas o que podemos fazer se os jogadores não querem marcar gols? Para impedir que a final seja 0 a 0, há duas possibilidades.
Uma é jogar uma outra final, mas isso traz problemas sérios de organização. Imagine se os brasileiros vierem à Paris para ver a final e, após um empate, forem obrigados a ficar mais três dias para um outro jogo. O avião já estava marcado, o hotel reservado, tudo programado para uma data e, na última hora, tudo muda.
A outra opção seria a morte súbita, que também tem problemas. O jogo pode durar horas, o que é ruim para os jogadores, para o público, para a televisão etc.
Folha - O senhor não apóia, portanto, a morte súbita?
Platini - Pelo contrário. Acho que ela obriga os times a irem para o ataque, o que só pode tornar o jogo mais interessante.
Mas tem o problema da duração do jogo. Em teoria, um jogo pode continuar infinitamente. E a idéia de morte súbita com tempo limitado não funciona, pois não tornaria o ataque algo obrigatório. Uma equipe que só queira se defender só arriscará o ataque se souber que o jogo só acabará quando uma das equipes marcar um gol.
Folha - O que acha da possibilidade de os árbitros conversarem com os bandeirinhas?
Platini - Acho que seria melhor se pudessem conversar com um outro juiz que acompanharia o jogo pela TV. É algo positivo, mas não acredito que isso possa acontecer na próxima Copa.
Folha - Há quem afirme que o futebol não é adequado para a TV, pois o jogo é muito longo e com apenas um intervalo para as propagandas. O que acha de um jogo com quatro tempos?
Platini - Não concordo com nada disso. Não acho que o futebol precise disso.
Folha - Quanto ao próximo Mundial, como andam as preparações?
Platini - Elas estão apenas começando. Temos ainda quatro anos pela frente. O primeiro passo será designar as cidades onde ocorrerão os jogos. Só sabemos que serão nove ao todo.
Quanto aos estádios, iremos construir apenas um, que terá capacidade para 80 mil pessoas. Será onde o Brasil fará sua estréia e estamos todos felizes por isso. Pessoalmente, fiquei muito contente ao ver Itália e Brasil na final, pois gosto de ambos. Espero que o Brasil faça um belo jogo inicial.
Folha - O que considera que pode ser melhorado para a próxima Copa?
Platini - Além de alguma coisa relativa à organização, acho que o Mundial dos EUA foi nulo em termos de atividades paralelas à competição. As pessoas que vierem à França terão muito o que fazer além de assistir aos jogos. Ainda não sabemos o que faremos, mas queremos muita festa durante a competição.
Outra vantagem é que somos um país pequeno. Será bem mais fácil para alguém que queira assistir jogos em diferentes cidades, pois pode-se pegar um trem e em uma ou duas horas chegar a outro estádio.
Folha - Acha que o Brasil será novamente favorito na França?
Platini - O Brasil é sempre uma equipe fortíssima. É certo que alguns jogadores estarão velhos daqui a quatro anos, mas há muitos jovens bons. É um time que sempre chega para brigar pelo título.

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