São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Não mudou

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - A grande novidade da pesquisa Datafolha publicada hoje é que não existe nenhuma novidade. Fernando Henrique Cardoso ainda ganha no primeiro turno e, ainda por cima, recupera pontos perdidos nas regiões metropolitanas, podados depois do episódio Ricupero.
Tradução: o efeito parabólica não pegou. Suspeitava-se que a queda nas regiões metropolitanas contaminaria o interior. Fernando Henrique sobe para 44% e Lula permanece estacionado nos 23%.
De todas as pesquisas publicadas nesta semana, a do Datafolha é a que capta com mais precisão essa tendência. O levantamento foi generalizado na sexta-feira, quando todos os fatos divulgados na imprensa e no horário eleitoral puderam ser deglutidos pelos cidadãos.
O episódio da parabólica foi amenizado pela rapidez com que agiu o governo. A denúncia saiu na sexta-feira e, no dia seguinte, tínhamos outro ministro da Fazenda: os jornais de segunda-feira eram tomados pelas declarações de Ciro Gomes. O assunto envelheceu.
Durante a semana, a campanha de Fernando Henrique conseguiu gerar fatos novos. Obteve duas importantes adesões no sul: Antônio Britto, no Rio Grande do Sul; Jaime Lerner, no Paraná. São lances, óbvio, que ajudam a interromper uma tendência negativa no público formador de opinião.
O essencial é o seguinte: a população ainda torce pelo real. A imagem de Lula está associada à interrupção do plano; a de Fernando Henrique, à sua continuidade. O PT paga o preço por se apresentar, no início do plano, como seu adversário.
A eleição virou um plebiscito, reduzindo as chances de opção. O eleitor desgostoso com Lula ou Fernando Henrique acomoda-se na tese do "mal menor". Chegamos ao ponto em que Quércia e Brizola estão empatados com Enéas, que, por sua vez, exibe o dobro da intenção de votos de Amin –um Amin que tem em Paulo Maluf seu maior cabo eleitoral.
A pesquisa Datafolha motra hoje que, para evitar a vitória de Fernando Henrique no primeiro turno, será necessário uma revelação de impacto ainda maior do que as revelações de Ricupero. Não é fácil, diga-se.
Pelo jeito, uma parabólica precisaria captá-lo roubando esmola de cego, batendo na mulher, cheirando cocaína ou trocando dólar com Najum Turner.

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