São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo rejeita acordo e faz ameaças às montadoras

FLÁVIO ILHA ; FRANCISCO SANTOS
DA AGÊNCIA FOLHA EM BRASÍLIA

FRANCISCO SANTOS
O ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel, ameaçou ontem as montadoras de automóveis com cortes no crédito dos bancos oficiais caso elas concedam aumento salarial aos metalúrgicos do ABC.
Os metalúrgicos estão em greve desde segunda-feira pela reposição do IPC-r de julho e agosto. Pimentel disse que fora da data-base da categoria –abril de 95– nada será permitido negociar, ainda que não haja repasse para os preços.
O ministro ameaçou as montadoras também com o aumento da fiscalização sobre os lucros do setor e com a abertura das importações. "Não vamos permitir nenhuma negociação de caráter econômico", determinou Pimentel.
"Não podemos ceder aos interesses de uma corporação, por mais justa que seja a reivindicação", disse. Segundo ele, o abono é uma antecipação disfarçada.
Para Pimentel, aumentos, mesmo sem repasse aos preços, trazem de volta a indexação. "Eles não aumentam agora, mas depois de um mês vão estar pressionando o governo para conceder reajustes".
O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, sugeriu ontem, no Rio, que as montadoras dêem um carro de presente a cada empregado como alternativa ao reajuste salarial.
"Tudo pode, menos a reindexação formal ou informal", disse o ministro, e perguntou: "Por que eles não dão um carro, ou condições privilegiadas para a compra de um carro, se querem dar um prêmio à produtividade?"
O leque de sugestões do ministro incluiu também a doação pelas empresa de participações acionárias aos seus empregados. "Países modernos do mundo têm mil alternativas que não a indexação".
Hoje à tarde, em Brasília, o ministro se reúne com o presidente Itamar Franco e o ministro do Trabalho para avaliar a crise. Representantes das duas partes envolvidas foram convocados a participar da reunião.
Para Gomes, o governo não interferiu na livre negociação entre empresas e empregados. Segundo ele, sua participação se deveu a um pedido de intermediação feito na noite de sábado pelas partes.
A oposição do governo ao reajuste de salários, segundo Gomes, não fere a liberdade de negociação. "Quando a livre negociação for um atentado ao interesse nacional, ela não é mais livre negociação".
O ministro afirmou que os metalúrgicos do ABC são a categoria "em melhor situação no Brasil". Segundo Ciro Gomes, os empregados das montadoras entraram no Plano Real com um ganho real de salários de 20%. No setor de autopeças, o ganho seria de 32%, pelas contas do ministro.
LEIA MAIS sobre a greve no caderno Supereleição

Texto Anterior: Os votos inesperados
Próximo Texto: Paralisação no ABCD continua até 6ª feira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.