São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994
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GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Uma nova rodada de pesquisas reservadas chegou ontem à coordenação de campanha de Fernando Henrique Cardoso. Os números mostram que o candidato tucano consegue se distanciar ainda mais de Luiz Inácio Lula da Silva. A aposta na cúpula do PSDB é de que a CUT se transformaria, agora, em seu maior cabo eleitoral, para consolidar de vez a tendência de vitória no primeiro turno.
O próprio Lula confidenciou ter medo da exploração política em torno da greve dos metalúrgicos que, ontem, ganhava mais adesões. Acertou: Fernando Henrique ataca as greves, apresentando-as como um plano de desestabilização do Real. O fato: esse discurso eleitoral tem uma boa chance de pegar.
As pesquisas reservadas encomendadas por candidatos mostram que o eleitor, cansado de tantas mudanças e incertezas, valoriza a estabilidade, principal marca da disputa ao Palácio do Planalto. Habilmente manipulado, o real virou um símbolo da busca de tranquilidade.
Quando a CUT mobiliza os metalúrgicos, o reflexo no PT é inevitável –especialmente porque o governo e os tucanos, tomando emprestada uma concepção autoritária, associam greves com bagunça.
O PT está pagando alto preço não apenas porque, no início, entrou em choque com o real. Mas porque desperdiçou tempo e não imprimiu a moderação em sua imagem. A culpa é especialmente de Lula, que deixou, por omissão ou descuido, os radicais ganharem a maioria no comando do partido.
O partido tornou-se um alvo fácil a ser explorado numa campanha –mesmo críticas eleitoreiras sobre as greves prosperam, aproveitando a imagem de que o PT seria uma ameaça à estabilidade.
PS – Só rindo. O governo federal investiga o sumiço US$ 4 milhões destinados a construir uma prisão no Pará. O dinheiro foi repassado, mas se levantou apenas um muro. O muro, aliás, deveria ter oito metros de altura. Tem apenas quatro. Caso se conclua a obra, o presídio já teria utilidade imediata: abrigar seus "construtores".

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