São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 1994
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Polícia apura desaparecimento de 8 meninas

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O quarto da menina Suzana de Souza Sena, 9, está sempre arrumado –cama feita, bonecas num canto e alguns vestidos no armário. A mãe da garota, Joana, explica: "pode ser que ela volte hoje".
Suzana desapareceu no dia 13 de junho deste ano, depois de sair de casa, em Bonsucesso (zona norte) para ir à mercearia da esquina. Nunca mais foi vista. Seu corpo nunca foi encontrado.
Suzana é uma das oito meninas desaparecidas no Rio desde março de 93. A polícia informa não ter pistas sobre os desaparecimentos.
O CBDDCA (Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente), uma entidade não-governamental que acompanha os casos, suspeita de sequestros para prostituição infantil.
A advogada do centro, Cristina Leonardo, diz acreditar que as meninas tenham sido sequestradas por uma quadrilha especializada e levadas para fora do Rio.
"Já ouvimos boatos de que as garotas estavam trabalhando como prostitutas em vários pontos do país e até no exterior", afirma.
Para Cristina, o perfil das garotas fortalece a hipótese de prostituição infantil. Todas são pré-adolescentes (de 9 a 12 anos), são morenas, bonitas e de família pobre.
"Elas fazem o tipo que poderia ser explorado por uma quadrilha de prostituição, de forma que nós nem conhecemos, ligada ao turismo internacional", diz Cristina.
Todas as garotas desapareceram de locais próximos de casa. Depoimentos de testemunhas revelam que pelo menos três meninas foram vistas pela última vez com uma mulher loura (veja quadro).
Sueli Porfírio, mãe de Vanessa, 10, chegou a saber por uma vizinha que a filha tinha telefonado chorando, pedindo para voltar para casa. A ligação foi cortada.
Na conta de telefone, veio uma ligação a cobrar de Catu, na Bahia. Sueli disse que comunicou à polícia, mas não conseguiu resultados.
A advogada Cristina disse que pediu ajuda à polícia baiana. Segundo ela, a equipe policial que esteve em Catu informou não ter notícias da garota.
Cristina desvincula os desaparecimentos de outros casos de violência contra crianças no Rio. Só o centro registrou 26 desaparecimentos desde julho de 92.
Sete meninas apareceram mortas e estupradas. Duas sobreviveram ao estupro e nove foram encontradas pela família. Oito casos continuam sem solução.
O inspetor José Augusto Lopes, que investiga os desaparecimentos de meninas, afirma não acreditar na hipótese de prostituição infantil.
"As garotas não têm nem estrutura física para isso", diz. Ele afirma que não há pistas e que é difícil saber onde estão as meninas.

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