São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma questão de bom senso

SÍLVIO LANCELLOTTI

Pressionada pelos clubes da Bota, a federação italiana cancelou três datas, fins-de-semana, em que a sua seleção se reuniria até o final deste ano.
A 'Squadra Azzurra', treinada por Arrigo Sacchi, disputa a fase das eliminatórias do Eurocopa-96. De maneira a bem treiná-la, o mister montou o seu calendário com enorme antecedência. Os clubes, todavia, não mais aceitam ceder atletas em circunstâncias triviais.
Ironicamente, lidera a rebeldia o Milan, clube que Sacchi ressuscitou depois de uma década de fracassos. A tese da agremiação é simplérrima de se entender.
A Itália vai enfrentar a Alemanha ou o Brasil? Muito bem, nada contra a cessão dos jogadores. A Itália vai enfrentar a Estônia ou o Cazaquistão? Que a "Azzurra" desafie tais inimigos sem desgastar seus craques.
Parece irrefutável a lógica dos clubes, submetidos pelas ligas da Europa a uma cruel maratona de certames sucessivos, que, de três anos para cá, praticamente dobrou o número de seus combates em cada temporada. Os clubes investem muito em seus reforços e nem sempre conseguem desfrutá-los.
O maior astro da Bota, Roberto Baggio, mal curado de uma contusão sofrida na Copa, ainda não estreou no campeonato de 94/95.
Paralelamente, os calendários da Europa são programados com uma sabedoria bem além de razoável. Já está pronta, por exemplo, a tabela do Euro que só acontecerá em junho de 95. Produz a rebelião dos clubes, meramente, o excesso de pelejas e não a desorganização das suas entidades superiores.
Nos idos em que o campeonato italiano ostentava 16 agremiações, era de 38 mil espectadores a sua média por cotejo. Com 18 times, a média está abaixo de 33 mil.
Com esse raciocínio na cabeça, examino a tabela da segunda fase do Brasileiro e me apavoro ao constatar, por exemplo, que o Corinthians e o Grêmio se chocarão mais duas vezes em outubro e novembro, depois de já terem se enfrentado outras duas entre agosto e setembro. Que torcedor aguenta ver quatro batalhas entre os mesmos times em tão curto intervalo?
Quando eu era um meninote, na década de 50, o torcedor aguardava com ansiedade um confronto entre Vasco e Flamengo ou entre Santos e Palmeiras. Os clubes se batiam duas, no máximo três vezes em cada ano. A raridade valorizava o duelo. Lei da oferta e da procura.
Hoje, o futebol brasileiro fornece clássicos em penca e em situações pateticamente desimportantes. Não seria mais correto e mais rentável um campeonato nacional de apenas 16 contendores?

Texto Anterior: Brasil reúne predicados para ser campeão
Próximo Texto: Zagueiro Júnior Baiano já fala em sair do São Paulo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.