São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995 |
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"Vale viver nesta época de violência?"
NA VERDADE AINDA ESTOU EM BALTIMORE E NÃO RETORNAREI À VIRGINIA ANTES DA VOLTA DE LUCY EM 10 DE DEZEMBRO Westmoreland, Va 22877Querido Érico, Acabei de emergir de um período de cama no Johns Hopkins Hospital. Meus excelentes médicos saturaram-me com diuréticos a tal ponto que perdi algumas libras em um dia. Tudo isto me deixou horrivelmente fraco, mas acho que estou recobrando as forças bem rapidamente. Agora que estou de volta a nosso pequeno apartamento, sinto-me outra vez humano... Um dos grandes prazeres aqui é o de termos uma sacada dando para as árvores e a grama verdes –além de termos um toca-discos. É muito agradável ver a foto com você e Mafalda sentados em seu estúdio, ouvindo Mahler (quem dera pudéssemos estar aí). Minha dificuldade para terminar a crônica em que estou trabalhando é muito parecida com a sua, como reunir forças para lidar com a imundície que vem subindo das profundezas de nossa sociedade. Muitas vezes me pergunto se vale a pena o esforço de viver nesta estranha época de violência. Espero chegar gradualmente a um ponto que me permita viajar outra vez. Faremos uma espécie de viagem "convalescente" a Tucson, Arizona, pelo meio de janeiro. Que datilografia horrorosa! Eu mal dava por mim mesmo quando saí do Johns Hopkins, mas pareço estar voltando aos sentidos dia a dia. Concordo inteiramente com você quanto ao retrato que Baker fez de Hemingway. Ele o congelou. O verdadeiro Hemingway era caloroso, ativo e cheio de vida, gostássemos dele ou não. É impressionante o que os acadêmicos podem fazer de suas vítimas. Saudades, felicitações de Natal, e muitos abraços de toda a família. Seu amigo, Dos Texto Anterior: "Mal podemos esperar por vocês" Próximo Texto: Verissimo escreve um parágrafo Índice |
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