São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995 |
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Um romancista liberal
AUGUSTO MASSI
A nova configuração político-cultural e o acirramento das tensões ideológicas conferiu um traço peculiar às décadas de 30 e 40. Os escritores tomavam partido diante de três tendências: comunismo, catolicismo e integralismo. Surgem obras como "São Bernardo" (1934) de Graciliano Ramos, "Fogo Morto" (1943) de José Lins do Rêgo e "Terras do Sem Fim" (1943) de Jorge Amado. Entre tantas vozes do norte, Erico Verissimo, com a publicação de "Clarissa" (1933) e "Caminhos Cruzados" (1935), desperta a atenção da crítica e dos leitores. Mas, se estas referências ajudam a compreender a atmosfera da época, são insuficientes para explicar o fascínio da prosa de Erico. Aprofundando o recorte histórico, ele pertence, ao lado de Jorge Amado e José Lins do Rêgo, à família dos grandes "contadores de história". Os três são capazes de criar vastos painéis, desenhar o destino de diferentes grupos sociais, fixando na rede do instante o fluxo histórico dos personagens. O emaranhado de planos temporais pede um enraizamento espacial que desemboca na criação de ciclos: "da cana-de-açúcar" em José Lins, "do cacau" em Jorge Amado e "O Tempo e o Vento' " em Erico. Mas, num aspecto importante a prosa do escritor gaúcho se diferencia dos outros dois: possui um sentido de composição menos lírico e mais construtivo. Este domínio da técnica narrativa é sua qualidade mais ressaltada pela crítica, seja um Otto M. Carpeaux, um Álvaro Lins ou um Paulo Rónai. Este domínio é resultado de sua formação influenciada pelos autores de língua inglesa. Desde os primeiros romances é possível reconhecer a presença de vozes como Katherine Mansfield (1888-1923), Somerset Maugham (1874-1965) e, em especial, Aldous Huxley (1894-1963) de quem traduziu em 1933, "Contraponto". A trajetória de Erico Verissimo pode ser definida como a de um romancista liberal. Só um estudo entre biografia e ensaio interpretativo poderia revelar a importância de sua permanência em Porto Alegre. Talvez desta forma o escritor que tanto se interessou pela história e o destino das pessoas pudesse ver reconhecida a sua presença, sempre militante e construtiva, como um ponto de convergência entre os caminhos cruzados de várias gerações, de Mario Quintana a Dionélio Machado, de Moacyr Scliar a Luis Fernando Verissimo. Texto Anterior: Verissimo escreve um parágrafo Próximo Texto: O modernismo gentil Índice |
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