São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Falta qualidade para a ciência feita no Brasil

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 02/01/95
Foram publicados sete artigos por pesquisasdores no Brasil na revista médica britânica "The Lancet" e um na americana "The New England Journal of Medicine", e não ao contrário como informa alguns exemplares.
A ciência brasileira está precisando de um choque de qualidade. É o que indicam números de uma pesquisa feita com exclusividade para a Folha pelo Institute for Scientific Information (ISI), a respeitada instituição que compila listas de artigos científicos e das citações que eles geraram.
A pesquisa mostra que são raríssimos os pesquisadores de uma instituição brasileira que publicam suas descobertas nas principais revistas científicas do planeta.
Houve uma pitoresca exceção: uma carta de dois cientistas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), publicada na seção de correspondência científica da Nature de 17 de fevereiro.
A carta dava a opinião dos dois sobre o processo químico que estaria por trás da formação do resíduo marrom do chá.
Em compensação, brasileiros pelo menos emplacaram alguns artigos –oito, no total– em outra publicação prestigiada, a Proceedings, da Academia de Ciências dos EUA, geralmente em biologia molecular e genética.
Em duas revistas médicas importantíssimas, a americana The New England Journal of Medicine e a britânica The Lancet, apenas 7 e 1 artigos foram respectivamente publicados.
A grande maioria dos artigos publicados pelos brasileiros foram em revistas de física. Entre as revistas de primeiro time selecionadas para a pesquisa, as de física têm mais espaço para textos.
Apesar do universo restrito da pesquisa, foi confirmada a posição da Universidade de São Paulo como a principal produtora de ciência no Brasil.
O primeiro problema da ciência do país é sua quantidade: para uma economia que costuma ser apontada como a décima do planeta, existe uma produção científica que não chega ao trigésimo posto. Apenas em termos latino-americanos a produção de papers (artigos) tem números respeitáveis.
Mesmo assim há o problema da qualidade: os artigos de brasileiros são consistentemente menos citados pelos pesquisadores do resto do planeta do que os escritos por mexicanos, venezuelanos, colombianos ou peruanos.

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