São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Diminuição do "Prozac natural" no cérebro pode levar ao suicídio

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na reunião de novembro último da Sociedade de Neurociência em Miami (EUA), que entre outros assuntos tratou do possível papel da serotonina na agressão e no suicídio, veio à baila um massacre ocorrido em 1989 em Kentucky.
Um gráfico demitido entrou na oficina em que trabalhara e, atirando ao acaso, feriu e matou muitas pessoas, suicidando-se em seguida. Soube-se depois que ele sofria de depressão e se tratava com Prozac, uma das drogas mais recentes e ativas contra a doença.
Vários grupos que combatem a neuropsiquiatria (ou biopsiquiatria) por diversos motivos desencadearam campanha contra essa prática médica e o Prozac, cuja proibição reclamaram sem êxito.
Há muito se sabe que a serotonina, substância transmissora de sinais nervosos (neurotrasmissora) muito espalhado no organismo, quando em baixo teor contribui para a depressão. Por isso vários medicamentos que a aumentam são usados no tratamento clínico da moléstia nervosa.
A serotonina é fabricada, secretada e absorvida por células nervosas em surtos que se espalham por todo o cérebro, onde transmite sinais de uma célula a outra. Além desta função ela desempenha muitas outras no corpo.
Na reunião de Miami, John Mann, da Universidade Columbia (EUA), mostrou que mais de 95% dos suicidas revelam alteração no teor de serotonina cerebral.
Essa deficiência é muito acentuada em determinada região que fica logo acima dos olhos, o córtex orbital, formado de substância branca. Em 20 suicidas autopsiados praticamente nenhum revelava serotonina nessa região.
Mas nem todos os deprimidos que contêm baixo teor de serotonina manifestam propensão ao suicídio. Parece que outros fatores adjuvantes, como o estresse, são necessários para deflagrar o acesso violento.
Em observações humanas e em animais de laboratório já se confirmou que a baixa de serotonina e as manifestações agressivas (como o suicídio) correspondem a picos naquela baixa. Por isso há pesquisadores que investigam o desenvolvimento de testes que indiquem a iminência desses picos.
Esforço semelhante está sendo feito por neuropsiquiatras para distinguir por meio desse tipo de testes diversas formas de doenças nervosas, como a esquizofrenia,a depressão, a perturbação obsessivo-compulsiva, para melhor orientar o tratamento a ministrar e adequadamente monitorar o uso de medicamentos.

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